Thiago

Thiago. Garoto de catorze anos, franzino, sotaque do interior, entrou na sala e começou a narrar sua história. Dizia estudar em uma dessas escolas particulares mais tradicionais da cidade, assim como boa parte da audiência que o escutava atentamente, tentando descobrir antecipadamente o que aquele menino fazia ali. Thiago começou então a revelar o motivo de sua presença. Estava indo muito bem na tal escola, média 9,0 em quase todas as disciplinas, menos em biologia – média 4,0. Precisava ter nota 10,0 para não repetir o ano e garantir a bolsa de estudos que o governo lhe concedera depois de comprovada sua competência. A solução seria participar de um congresso de biologia em outra cidade. O problema é que não tinha dinheiro, não podia custear sua inscrição no tal congresso, por isso estava ali, pedindo, pela primeira vez em sua jovem vida. Comoção geral. Nem bem terminou de discursar, bolsas se abriram, bolsos foram esvaziados, e a pergunta: Quanto falta para completar o dinheiro? Nunca se havia visto naquele lugar cena igual. Enquanto Thiago recebia o dinheiro, alguns choravam. Reconheciam-se naquele garoto envergonhado e feliz. Outros também choravam, pensando sobre sua medíocre vida ganha. Não foi preciso um discurso moralista, desses que se está cansado de ouvir, para que se compreendesse naquele momento a verdadeira razão de estarem ali. Thiago não filosofou nem construiu teses sociológicas sobre a vida, mas mudou as vidas daqueles que ali estavam.