Meu mundo que se foi.

Toda a minha realidade veio à tona. Um mundo de fantasias que começava a ser o meu mundo real foi destruido por dois pares de olhos repreensivos, duas bocas que só sabem negar. Eu estava lá firme e forte, com frio, com medo, desnorteada, apagada, estava sentindo a solidão começar a invadir o ambiente tentando se instalar de vez, mas então tudo ficou escuro, as luzes me deram o prazer da escuridão.

Muitas coisas são melhores vistas ao cair das luzes. Certas coisas passam a ser melhores compreendidas quando não há luz para encandear os olhos. Tais coisas rodaram e perfuraram meu cérebro como quem perfura o dedo, uma leve dor e uma agonia sem fim. Eu só podia dizer que estava sóbria apesar de tudo, eu estava lá, eu estava, inegavelmente estava de pé sobre os cacos do meu mundo, pisando em cada um deles tentando faze-los voltar ao lugar de onde vieram, de dentro de mim, de dentro do que eu sou.

Ao fim do dia, eu já não queria mais saber do mundo no qual eu jamais me encaixaria, só sentia saudades do meu mundo que se foi, brutal e irrevogavelmente. Os pares de olhos repressores não fazem ideia do quão machucada e massacrada eu fui naquele dia. Hoje, eu os vejo mirarem os meus restos como se nada daquilo um dia tivesse a possibilidade de acontecer, como se tudo o que foi destruído ainda estivesse lá.