Salve Rainha
Outra noite eu sonhei que tinha sido eleito prefeito de uma cidade, vi-me rodeado de pessoas de todas as espécies e de todos os interesses. Fui eleito quando nem acreditava que ganharia. Agora com a “batata quente” em minhas mãos não sabia por onde começar. A cidade tinha potencial enorme e várias coisas por fazer. Algumas cartas já estavam marcadas, e tinha que jogar, por exemplo, entregando cargos a alguns dos que me “ajudaram”. Nem tanto pela habilidade deles, mas pelo compromisso financeiro ou partidário. E ai de mim, se não o fizesse. Descobri, no sonho, que é assim que funciona, no cargo mais alto do executivo municipal, sou apenas uma marionete, controlada por cidadãos que investiram muito em mim, mas querem retorno bem maior do que investiram. Tenho que me cuidar, abrir chance para eles se esbaldarem dentro do legal. O sonho era bem detalhado. E eu que quando estava acordado pensava que ser prefeito era ter muito poder nas mãos. Ledo engano. O poder é uma ilusão incansavelmente buscada pela vaidade. Claro que faz bem ser chamado de prefeito. Participar e aparecer aqui e ali é muito bom. Mas o preço é alto. E os bajuladores então, esses são bem mais numerosos, no sonho eu percebi que tem os que já vivem do sistema, já estão a muitos anos “mamando” e não querem largar de jeito nenhum, mudam de opinião e de lado, como se muda de roupa, é muito difícil e doído separar-se deles. E tem os novos bajuladores que querem fazer parte de tudo isso. Estava cercado, também, de pessoas que foram indicadas, e eu até acreditei, mas elas não eram tão boas assim, e me deixaram, umas alegavam isso, outras alegavam aquilo, mas na verdade, a dona vaidade é que reinava no meio desses “infiéis-escudeiros”. Meu Deus, o sonho tornou-se pesadelo, quando me deparei com a câmara municipal. Pensava eu, quando acordado, que aquele órgão existia para fiscalizar os atos do executivo. Qual nada, na realidade, dentro do meu sonho, aquele lugar tinha pessoas parecendo muito com as que investiram em mim, só que com a única diferença que não tinham colocado nada de grana, e queriam retorno tanto quanto de tudo. No meu sonho, ou eu aceitava esse jogo, ou nenhum dos projetos andavam. O preço já era caro de pagar aos que tinham “apostado” em mim, imaginem agora com esses. No meu sonho, a política era sinônimo de covil. Para não dizer que tudo estava perdido, e que toda regra tem exceção, havia tanto no executivo, como no legislativo, alguns “gatos pingados” que não compartilhavam dessa bandalheira, mas infelizmente eram omissos e não se indignavam. Então, no meu sonho, eu era “O Cara!”, sem poder, sem plano e sem projeto para a minha cidade. Rodeado por uma maioria que não queria nem saber quem tinha pintado a zebra, queriam era ganhar alguma coisa com isso e por alguns espertalhões bem mais preparados ganhando muito, muito mesmo, à custa do dinheiro público. As pessoas sérias que me acompanhavam nessa labuta, acabaram desanimadas, por “malhar em ferro frio” sem nenhum resultado. No meu sonho, só a rainha vaidade nos segurou até o final do mandato, ou melhor, até eu, aliviado, acordar.