NOSSOS MENINOS NÃO TÊM RITO DE PASSAGEM.

Os meninos andam pelas cidades, eles correm para onde?

Vendo os meninos me recordo me procuro e as comparações são inevitáveis. Mas não quero comparar, embora sejam espelhos, sejam feitos da mesma essência e remetam ao instante em que se abandona a infância.

A infância não se extingue, deixa um vácuo, clausura na turbulência as quais nos impomos.

Nos filmes e livros há sempre um instante, conjunto de acontecimentos que demonstram a transição da criança para o mundo adulto.

J. D. Salinger, em seu “O Apanhador no Campo de Centeio”, livro clássico americano, descreve em seu personagem sua incapacidade de se adaptar ao ambiente escolar e o rito de passagem oriundas desse desprendimento.

Numa rápida pesquisa, fui procurar o que seriam esses ritos de passagem.

Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Normalmente são de caráter religioso. Antropólogos já se interessam pelo tema.

Nas sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Representavam uma aceitação do indivíduo no seio da comunidade. Nas mulheres, normalmente é representada através da fertilidade a partir da menstruação e nos meninos com a caça do primeiro animal.

As cerimônias marcam pontos de desprendimento.

Décadas atrás, as meninas aos quinze anos e marcavam o início de uma nova fase em suas vidas.

Se ainda existe, a celebração dos quinze anos é meramente um compromisso social.

Hoje, as meninas se iniciam antes. Os meninos se iniciam antes. E não há iniciação alguma.

Penso que os meninos correm por que acabaram de fazer sua transição, fizeram seu ritual de caça. A caça se comprova com os camburões de polícia que perseguem os meninos. As meninas casam-se cedo, juntam-se aos pais de seus filhos. Os pais correm fugindo durante essa rápida transição.

Nossos meninos não têm rito de passagem, mal frequentam escolas que talvez não venham gostar, não emprego que os faça amadurecer e, tampouco, exemplos que provem ser possível.

Se há rito de passagem, ele é um batismo, não religioso, um rápido afogar nas águas do desestimulo, na falta de expectativas.

Enquanto correm, espero o sinal abrir e todos os carros, todos os meninos e todos os carros de polícia ultrapassam e deixam o vácuo.