EU ODEIO LER

Ela trabalhava numa livraria, mas odiava ler. Nada escrito despertava o seu interesse, nem mesmo as revistas de fofoca da TV.

Os livros na estante a observavam passar por eles, como se eles não existissem. Best-sellers não valiam um centavo; Machados e Bandeiras nem chegavam a ser refletidos em seus olhos; Harry Potters e Zibias não eram mais pops; e se dependesse dela, nunca teriam razão de serem escritos.

- Eu odeio ler – dizia ela quando era perguntada se ela lia muito por trabalhar em uma livraria – Tenho coisas mais importantes a fazer com o meu tempo - respondia.

Enquanto eu escutava aquela conversa, tentei não julga-la; eu, tenho cá, os meus “não-gostos”, mas fiquei imaginando se eu conseguiria criar um texto que a pudesse encantar, chamar a sua atenção; fazê-la perceber que ao ler esse mundo de letras, a sua mente se expandiria.

Pensei em criar uma crônica que a fizesse rir ou mesmo chorar; quem sabe escrever um poema que a fizesse roubar os meus versos e dizer que eram seus; mas daí lembrei que respeitar o mundo alheio é fazer prevalecer o direito que todos temos de desgostar daquilo que gosta o mundo inteiro.