L E I É L E I
Advogando em causa própria, me demiti.
Estava em audiência comigo mesmo, sem testemunhas, não fiz nenhum acordo.
Remarquei.
Sou o Juiz, o Advogado e o Promotor.
Comigo não tem colher de chá.
Advogando em causa própria, sem receber nada, uma vírgula, é mais que suficiente para me tirar do sério, faz de uma frase, uma grande confusão, atrito, demanda, lide, confesso, sob pressão, confesso tudo.
Os personagens, eu e eu mesmo, o autor e o réu, o autor é o réu, a vítima e o réu, o réu se transforma em vítima, o teatro, a interpretação, a encenação, platéia de um homem só.
Advogando em causa própria, não recebi um centavo sequer de mim mesmo, não me ouvi, no momento mais importante, o julgamento, e agora?
A justiça tarda mas não falha? É cega? Surda? Muda?
Não vou mentir, cometi vários crimes contra mim mesmo, desde a mais tenra idade, me violentei, em nome de quê, em nome de quem?
Me julguei mal, desde o princípio, eu não era tão ruim assim como imaginava, mas a balança da justiça já está pendendo para o outro lado há bastante tempo, não tenho mais escapatória, nem recursos.
Não me julguem como eu me julguei, façam justiça, acreditem em mim, tenham misericórdia deste pobre e infeliz condenado.