L E I É L E I

Advogando em causa própria, me demiti.

Estava em audiência comigo mesmo, sem testemunhas, não fiz nenhum acordo.

Remarquei.

Sou o Juiz, o Advogado e o Promotor.

Comigo não tem colher de chá.

Advogando em causa própria, sem receber nada, uma vírgula, é mais que suficiente para me tirar do sério, faz de uma frase, uma grande confusão, atrito, demanda, lide, confesso, sob pressão, confesso tudo.

Os personagens, eu e eu mesmo, o autor e o réu, o autor é o réu, a vítima e o réu, o réu se transforma em vítima, o teatro, a interpretação, a encenação, platéia de um homem só.

Advogando em causa própria, não recebi um centavo sequer de mim mesmo, não me ouvi, no momento mais importante, o julgamento, e agora?

A justiça tarda mas não falha? É cega? Surda? Muda?

Não vou mentir, cometi vários crimes contra mim mesmo, desde a mais tenra idade, me violentei, em nome de quê, em nome de quem?

Me julguei mal, desde o princípio, eu não era tão ruim assim como imaginava, mas a balança da justiça já está pendendo para o outro lado há bastante tempo, não tenho mais escapatória, nem recursos.

Não me julguem como eu me julguei, façam justiça, acreditem em mim, tenham misericórdia deste pobre e infeliz condenado.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 16/10/2009
Código do texto: T1869654
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