E foi assim que a briga começou (EC)

Há algum tempo tenho notado que as pessoas me convidam para uma boquinha e depois me deixam na mão. Uma amiga libriana, por exemplo, pela terceira vez me convidou para comemorar algo. Desta feita, seu aniversário, em uma churrascaria. Três horas antes do combinado tocou o telefone e era ela. Pediu desculpas, mas em razão do temporal que estava na fronteira com o Uruguai, distante daqui 500 quilômetros, não teria mais churrasco de aniversário.

Da penúltima vez, a comemoração era do aniversário de sua mãe, que amarelou diante do frio de rachar que fazia naquela noite. O encontro seria numa pizzaria. Encontros em cafeterias, meus preferidos, são marcados e desmarcados com ligeireza surpreendente.
 
No último domingo, outra amiga ligou para minha casa e me convidou para almoçar no shopping. Deu o nome do restaurante e lá fui eu, certa de que iria me dar bem com as finas iguarias. Cheguei primeiro e fiquei dando voltinhas pela praça de alimentação. Logo em seguida chegou ela, também libriana, sorridente, toda saltitante, dizendo que tinha pensado em outra coisa. Que tal se nós fôssemos à churrascaria, que era ali próximo?

Considerando que eu recém saíra de uma crise de vesícula, não estava muito a fim de churrasco. Pesei os prós e os contras e lá fomos nós, pois poderia optar pelo buffett livre, sem precisar me empanturrar de carne. Como sou de fácil contentamento, me servi de arroz, feijão, tomate e um pedaço de carne magra. Faltou o ovo frito - coisa que já não me pertence mais, assim como a coca-cola. Acontece que o feijão estava puro sal. Valeu pela apresentação de dança da terrinha, o que é sempre um bom espetáculo.

Ao sairmos da churrascaria, voltamos ao shopping e sabem o que a perversa fez? Convidou-me para visitarmos a vitrine do restaurante para vermos quais eram os pratos do dia. Só poderia ser para eu saber as delícias que eu tinha perdido. Puro sadismo.
 
Com todos esses indicativos famélicos, eu saquei que era o universo dando o ponta-pé inicial no meu regime para o verão. Decidida a algumas concessões e a viver de luz o máximo possível, lápis e caderneta na mão, fui à procura da boa forma. Juro que vi num dos programas alimentares: “- Nunca deixe de comer a sua sobremesa”.

Juro pelo sagrado chocolate - que era a sobremesa indicada – que isto estava escrito. Logo, o que estava escrito era lei. Uma lei deveria ser cumprida fielmente. Claro que havia outras recomendações, mas apenas detalhes... Quem se importa com eles?!
 
Escolhido o programa alimentar, repleto de boas intenções, especialmente pela manhã ao acordar, restava segui-lo. Para fazer efeito mais rapidamente optei por não jantar. Comer uma barrinha desgraçada de cereais às 17 horas e depois somente água ou chá sem açúcar. Olhar televisão e aquelas propagandas de pizza calabresa, sorvetes com calda escorrendo, famílias felizes no supermercado-, nem pensar! Fui cedo para a cama por duas noites seguidas.

E foi assim que a briga começou. Na terceira noite, 200 gramas a menos, dor de cabeça a mais, autopiedade a milhão, me vi num pesadelo sem precedentes na história das dietas. Eis que um peito de frango gigantesco invadiu a Terra, causou maremoto, derrubou vários edifícios e, parecendo que tinha tomado todas, perguntou: “- Sabe por que o frango atravessou a estrada?".




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Este texto faz parte do Exercício Criativo - E Foi Assim Que a Briga Começou.
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meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 16/10/2009
Reeditado em 22/09/2011
Código do texto: T1869350
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