CONSUMISMO
Acho que encontrei um remédio para quem se sente incomodado com a chamada compulsão para o consumo. Mesmo para os que não têm dinheiro para ter a doença e insistem em adquiri-la. Síndromes de SPC e SERASA (doenças novas, segundo a última versão do Código Internacional de Doenças) são casos de hipocondria consumista. Portanto, muito cuidado com interrupções bruscas, pois causam sérias crises de abstinência.
Essa idéia me veio lá da página do Eduardo Costta, de uma bela crônica chamada A TELEVISÃO. Ele relata um assalto em uma residência, cujo único bem deixado para trás pelos ladrões foi uma televisão muito antiga. Mas uma televisão que passou por várias gerações e acabou construindo um laço emocional na família. Aquele rapaz (o Eduardo Costta) é de um talento imensurável.
Como uma mercadoria, um simples objeto passa a ter valor afetivo para a gente? Às vezes, quem nos deu é muito querido ou apreciado; pode ter sido recebido numa data muito especial; foi talvez comprado com muito esforço, uma poupança de anos a fio. Objetos que possuem uma história. Mas como isso não é do universo do consumismo desenfreado, vamos falar daquelas coisas que compramos, compramos, compramos estando ou não precisando. A idéia é que passemos a registrar as histórias que esse objeto cria para ver se adquire um valor estimativo , de forma que freie nosso impulso de jogá-lo fora assim que surge um mais moderno no mercado. Transfira para o objeto, a emoção que sentiu quando aconteceu algo do tipo que você conta para alguém, sem levar em conta o valor material do objeto que estava ali, junto com você.
Aquele carro cujo alarme disparou quando você estava no melhor da pegada, aquele celular que tantas alegrias e aborrecimentos lhe deu, como o primeiro emprego quando lhe chamaram e você estava lá na praia, tão necessitado... ou aquela demissão desrespeitosa por telefone. Já pensou na ligação que fez para o resgate que salvou alguma vida no trânsito, ou aquela denúncia anônima que evitou um assalto? E o velho computador (do ano passado)? Ah... esse deve ter tantas histórias para quem não é analista de sistemas, instrutor de informática ou hacker...Deixe que falem que é ultrapassado. A menos que na memória dele não tenha mesmo nada que valha a pena ser lembrado.
Registre tudo, fale com todos, fotografe, dê nomes, mas também não vamos exagerar e transformá-los em mercadorias humanizadas, a ponto de gerar crises de ciúmes se alguém ficar de olho.