Anistia

Hoje eu decidi. Vou acabar de uma vez por todas com esse maldito impasse. Vou concluir essas ideias deixadas em aberto, pontuar as orações, tirar dos bolsos os pontos finais e pisotear as interrogações e reticências pelo caminho. Definitivamente, vou apertar ou arrebentar todos esses nós frouxos.

Minha vontade era jogar meu corpo inteiro, derrubar a tua porta, quebrar tudo aos pontapés, te agarrar pelos ombros e chacoalhar com força, te sentar numa cadeira e obrigar a me ouvir durante muito e muito tempo. Até o fim. Até que eu perca a voz.

Decidi que vou desapertar minha garganta, e assim encher a tua sala de dejetos, lixo e vermes que eu vou cuspir aos montes na tua cara.

Lamento se por acaso eu queimar a tua pele, ou se por acaso eu ferir teus olhos. Acontece, minha querida, que eu vou chegar armado até os ossos, com a língua afiada como nunca, capaz de cortar suas mentiras e lamentos com a facilidade com que se corta uma fatia de manteiga. Minhas palavras serão atômicas, radioativas, nucleares e te garanto que se não puderem exterminar tudo em questão de segundos, contaminarão até o fundo e deixarão sequelas cancerígenas eternamente na tua alma.

Faça o que quiser, eu agora sou irrefreável. Nada no mundo vai ser capaz de me deter. Chegarei de peito aberto, todo estampado de pecados, com um orgulho que me faz à prova de balas. Pode me chamar de sádico, cruel, terrorista, grite, chore, tenha convulsões. Apenas te mostrarei o meu sorriso espumante, e te pedirei pra se calar e receber em silêncio o meu presente.

Meu amor, eu trago o apocalipse nas mãos.

Vou escolher um dia bonito pro seu juízo final. Tudo bem, eu não sou Deus, nem o Diabo, mas vou me encarregar do teu destino. Não passo de um monstro sem nome, um monstro gerado no seio da dor e do desespero, fruto do caos silencioso adormecido por toda uma vida.

Já posso ver o medo nos teus olhos, como sempre, e em breve vou tirar a minha máscara, e despedaçar a tua. Vai sentir meu toque como nunca, e minhas digitais ardendo como ácido. Minha voz vai ser trovão, ecoando até que seus tímpanos estourem. Meus olhos vão brilhar.

Loucura é sanidade atingindo um limite insuportável. Eu já ultrapassei todos os limites. Eu os esmaguei.

Escolhi a verdade como sustento, a integridade, e a paixão. A verdade é uma doença degenerativa, e eu desejei me infectar. Pouco a pouco sinto a patologia avançando até que tome conta de cada célula do corpo, levando a um estágio terminal. É uma enfermidade que nutre e consome, sem piedade.

Antes do meu fim, levarei a peste até você. Pra te contaminar com essa hemorragia verborrágica. Sangraremos, os dois.

E já que sempre fomos iguais, agora teremos ainda mais uma coisa em comum: acabaremos vítimas de uma mesma verdade - a nossa. E enfim, livres.

L
Enviado por L em 16/10/2009
Reeditado em 16/10/2009
Código do texto: T1868910
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