O CHORO DOS INFANTES
Final de jogo. No pátio do prédio, pais e crianças assistem à partida preparados para uma grande comemoração. Engradados de cerveja, bandeiras, karaokê, cama elástica, piscina de bolinhas... Tudo preparado para as alegrias dos infantes e marmanjos, até mesmo coreografias e figurinos. Olés, olas, refrão de campeão, hexacampeão. Contudo, com a derrota para a França, o início da festa é corrompido pelo espírito de final de jogo. Desolação. Pais frustrados, prostrados nos assentos, e crianças perdidas em choros desesperados, dispersam-se no salão verde-amarelo.
O universo infantil se reparte em fases. Os pequenos, que durante o jogo brincaram felizes alheios aos lances, choram desesperados. Talvez nem entendam o que é uma copa do mundo, mas já aprenderam o que é perder e não gostam. As crianças mais velhas estão decepcionadas, entendem um pouco de futebol para perceberem que a França jogou melhor, mas não aceitam a derrota mesmo sabendo que a nossa seleção não estava com esta “bola toda”.
Os ânimos ficam mais acirrados com o barulho dos fogos de artifício que teimam em explodir. Quem é o louco? Alguns pais refeitos da decepção tentam acalmá-los. Pode ser um francês... Quem sabe um bêbado... Mas as crianças estão firmes em sua contrariedade. Os pequenos apertam os ouvidos e correm com medo, os mais velhos gritam alguns desaforos que ouviram dos adultos durante a partida.
Uma criança manifesta a indignação numa frase cortante: Somos um país sem sonho. A mãe se aproxima e tenta desfazer a desesperança: é apenas uma copa, tem de quatro em quatro anos, como temos eleições, olimpíadas, dor de dente... Mas a idéia do pequeno já ganhou guarida no pensamento coletivo: os infantes e os adultos convergem para um olhar embotado, tendo de recriar o presente e as perspectivas distanciados das campanhas midiáticas que acendem estrelas e ressuscitam o sentimento infantil de ter de ganhar a qualquer custo: com a tática de só importar o resultado.
Depois de alguma histeria, muita lamentação e tristeza, as crianças secam as lágrimas nos saltos da cama elástica, mergulham nas cores da piscina de fantasias e resgatam os próprios sonhos nas brincadeiras pueris.
Bola pra frente!