Mar Grande
Existem nas colônias de pesca, traineiras velhas, que já pagaram seu preço, mas continuam funcionando e trazendo até nossas mesas peixes os mais diversos.
Feitas de madeira que não desanda à toa, embora pequenas sejam o mundo e a vida de muitos pescadores. Algumas pequenas, outras nem tanto.
A estrutura rígida, mas permitindo o trabalho da madeira, para não trincar em mar revolto, é muito interessante.
Beliches servem para os tripulantes dormirem. Tem cozinha com recursos. O botijão de gás vai firme, cuidadosamente colocado em cima da cabine. Evita acidentes. Funciona preparando peixes, geralmente com pirão. A goiabada e as bananas não faltam. Uma garrafa de pinga, ou mais, depende do patrão de pesca.
Acima do gás, está esticada a antena do rádio. As mais modernas têm igualmente o rádio VHF marítimo, de alcance limitado.
O duro trabalho é compensador. Um bom mestre, ou marinheiro antigo, com uma simples vista d’olhos distingue um cardume de valor. Uma vez cercado, garante tanto o trabalho dos pescadores, como o peixe de nossas mesas.
Nem sempre são profissionais. Pela segurança do casco e motor, sempre diesel de força, são muito confiáveis.
Quando velejava no oceano, fui convidado a passar um fim de semana numa delas. Os três proprietários, homens já passados dos sessenta, tinham experiência grande. Não pensei duas vezes.
Desfrutei grandes momentos. Como navegador, de duas em duas horas, e não há necessidade disso, assinalava na carta náutica nossa posição verdadeira, usando o GPS que até hoje guardo com carinho. O sextante enfeita minha sala, comprei quando o instrumento de navegação por satélite não existia. Na mesa de navegação das embarcações modernas, inclusive as antigas que ainda estão trabalhando, o GPS é obrigatório. Ele fornece sua posição com erro mínimo. A navegação astronômica usando sextante está ultrapassada. Não se consegue tomar a altura dos astros em dias nebulosos ou chuvosos, por exemplo. Durante a noite, o horizonte do mar não é definido, impedindo a leitura dos graus, minutos e frações de segundo do corpo celeste que esteja brilhando.
Pescava de molinete, e sou horroroso nesta arte.
Uma lancha grande, moderna e com recursos, estava à cata dos bicudos.
Gostam de aparecer, mostrando a pesca de espadartes, principalmente.
Apanho a pistola de tiro para repelente de tubarões e faço o disparo. Os peixes somem da área.
O rádio zumbe, mas cessa quando vê no convés um homem armado de rifle civil.
Acontece.