Dia dos professores...

Sou professora. Alías, pedagoga. Tive a infeliz idéia de que podia mudar o mundo.

Fiz a faculdade tão direitinho! A linha de ônibus era péssima, o bairro era um horror, o prédio era pavoroso, mas lá ia eu, à noite, enfrentar os doidos -o prédio era vizinho a dois asilos de loucos, um de cada lado. Só o ônibus já era um horror! O terminal era num bairro suburbano, barra pesada.

Virou mexeu a gente ia parar na delegacia por que havia briga no coletivo, o delegado já sabia e mandava a gente - as estudantes - caírem fora ligeiro. Uma vez uma moça de aparência muito dadivosa, com uma calça pra lá de colada, foi incomodada por um camarada que certamente achou que a bunda da dita cuja era uma beleza pra encostar o dito cujo. Aí a moça, indignadíssima, soltou a plenos pulmões:

- Ow, filho da puta, ou você baixa essa caceta ou eu baixo-lhe a porrada aqui dentro! Descola da minha bunda!

E lá vamos nós pra delegacia. Maridos e mulheres encontrando amantes...delegacia. Devedores e cobradores? Delegacia...enfim.

O prédio tinha um brejo atrás. Os mosquitos, se entrassem num acordo, podiam bem carregar uma pessoa vivinha da silva, para comer. Ainda bem que nunca pensaram nisso.

Eu gostava de estudar e tirava boas notas. Teorizava muito sobre educação. Fazia planos.

Eu não contava com a realidade além da teoria: alunos e pais. Gestores indicados pelos compadres do governo. Escolas sucateadas.

Alunos e pais são o pior disso tudo. Eles não se respeitam e não respeitam ninguém. professor é lixo. Tanto faz na escola pública, quanto na privada. É tudo igual.

Pais criam filhos como se fossem cavalinhos selvagens; sacaninhas que acham que o mundo está a seu serviço e que a gente, que ensina, está ali por favor deles e não ao contrário.

Abandonei a sala de aula antes que matasse um daqueles pestes...eu nem vou disfarçar a vontade de dar uma pisa boa num daqueles filhinhos da puta...estensível ao papais corujas dos monstrinhos. Uma mãe, disse na minha cara que o filho dela era livre em casa e na escola também tinha de ser. E eu respondi que ali não era estrebaria e eu não estava sendo paga para "adestrar" o cavalinho dela, pois se ela aceitava que ele dissesse a ela os piores palavrões eu não tinha nada com isso, mas que dificilmente eu ia aceitar ser chamada de "rapariga" e outras pérolas, saídas da boca do nojentinho.

Enfim...quatro anos perdidos.

Não recomendo a ninguém ser professor, deixa essas desgracinhas ficarem ignorantes, afinal, o Brasil já tem mesmo um futuro de terceira...vamos todos ser feirantes, ganhamos mais, por que comer todo mundo precisa.

O T-Rex diz que eu estou pregando coisas nas quais não acredito.

- Tem razão Rex, mas todo ano, nesta data, fico sensível e com raiva.

ProfessoraNadia
Enviado por ProfessoraNadia em 15/10/2009
Código do texto: T1867632
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