SE LEMBRAM DE MIM ?

Vocês já me conhecem, sou aquele cronista que vive repetindo as frases, se lembram? Começo e termino sempre do mesmo jeito. Invento frases para reinventar minhas fases. Fabrico ilusões para mim mesmo. Eu mesmo me assusto. Assumo as responsabilidades por não fazer nada de concreto, tudo é ilusório, virtual. Vou embora, permaneça.

Repito e reprovo minha atitude. Meu cérebro, minha mente, é uma fábrica de mentiras alegres, ou não, dependem, independem, interferem, intercalam, calam, gritam, euforicamente: sou o mais louco dos loucos!

Tudo começou assim, não senti nada, parecia que eu vivia eternamente sob os efeitos de anestésicos poderosíssimos, parece que eu vivia dependente de aparelhos, respirando com a ajuda deles, os aparelhos, eu não aguentava mais, nem menos, vivia, sofria, corria de um lado para o outro do quarto no qual estava preso, livre de mim mesmo, mas longe demais da realidade, qual?

Tipo um livro de auto-ajuda, ouvi a frase: faça a vida acontecer! Faça agora! Tá certo que não li Paulo Coelho, nem outros bichos afins, mas precisava de uma injeção de ânimo, que não doesse tanto, que penetrasse na veia e injetasse na corrente sanguínea algo novo, uma nova forma de encarar a vida, de frente, cara a cara, coisa que nunca fiz antes por pura conveniência de garoto mimado, agora, quarentão, jovem demais ainda, não sei mais onde pisar, vivo no mundo da lua, sonhando vinte e quatro horas do dia e isto já está acontecento há séculos, eu não existo. Medito, no topo do Himalaia e chego a conclusão nenhuma, volto para minha terrinha e vejo meus filhos, que coisas maravilhosas. Sou eu mesmo ou meu reflexo neles?

Os filhos, as árvores, os livros, não entendo eles, não escrevo livros, as árvores não são minhas, os filhos, do mundo, eu, perplexo, me revolto comigo mesmo, por que fiz isto, se não sabia o que fazer?

Esta é minha estória, que não é minha, vocês se lembram agora?

Repito demais, reescrevo demais, reformulo a fórmula que não deu certo, entrego nas mãos de deus e seja o que ele quiser, não faço parte disto não, mero ser que parasita entre um estado alucinógino e outro, as drogas, os remédios, paliativos, não escondem tamanha decepção comigo mesmo, não fui capaz de me transformar, mutante que sou. Começo e termino sempre do mesmo jeito, sem jeito.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 15/10/2009
Código do texto: T1867485
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