O amor é simples
Em um espaço qualquer, onde o vento sopra um discurso ameno; entre as pequenas estradas de um interior desconhecido (onde o cheiro do mato é senil e puro), lá habitavam eles, diminutos; simples como qualquer figura humana, quando se comporta como real figura humana. O calar triste; os olhos condensados de vivência; a pele que, por motivo qualquer, encolheu-se, eram esses, à distância, seus atributos; era isso que se via por quem somente via, ao longe.
A morada era simplória. Móveis, não havia; a janela – única – frente ao lago transpirava um doce que ali não existia. Deveria ser a impressão que trouxe da cidade (disseram-me, outrora, que não). Fui chamado às pressas. O coração do senhor, cansado, demonstrava que não compactuava mais com o absurdo da vida, e queria partir. Poderia mentir, eu sei; mas aquele homem – com a feição singularmente estranha a todas que já fronteei – parecia ver-me dentro, no momento que me olhava aos olhos. Irei partir, não é, doutor? Sim. A resposta escapou-me mansa. Sua senhora, rígida (mais tarde descobri que esperançosa), entrou no quarto. Ele sorriu. Irei - minha dileta - ao longe. Como ao sentir-me intrometido, pensei em me retirar; antes de ir – que o acaso sempre me alcance! – ouvi uma frase que fixou-se em minha mente. Não era esplêndida ou descomunal: era simples. Falou: a pena de eu ir não é terminar a vida, mas é contigo não mais conviver. Eu, simples médico – e desconhecedor da sabedoria vivida -, senti o peito como se me fosse fugir. Corri; fui chorar quieto. É verdade: o amor, deveras, é simples, como aquele cheiro campestre há de também o ser.