Fotografia
Cissa de Oliveira
Doce de se comer com os olhos, bem que eu queria mas não foi na estante da sala ou no criado mudo – lugares de efemeridades – que eu a coloquei. Escolhi entre o vislumbre e a indiscrição, e, digamos, instantes à fio me encontrar, admirando-a. Ali, quando o abajur de iluminar poesias derrama-se sobre a verdade, sua imagem vive, e é no verso que enxergo nos olhos dela que mora a música de contar as coisas que não dizemos.
Esse querer, algo que ela não pode intuir, tanto ou mais órfão que meus lábios, a tocarem a fria superfície que a retém, imutável, é o que me faz sonhar acordada. Mas “imutável” é termo que não combina com as rimas que por ela transbordam em mim.
Combinar, ela combina é com a brisa que suspeito emoldurando-lhe o gesto de espera. O que esperaria? Quem sabe, a carícia fugaz de meus dedos, ou então a de meus pensamentos, que dela nunca se desfaz.
Fotografia, que sem divisar meus olhos, combina com os sonhos que passam, devagarinho, entre o sim e o não do meu dia a dia; embora seu jeito mudo de despertar paixão não saiba disso.
Ah! Fotografia... “é bom pressentir suas razões, seja lá quais forem, rimando com os laços dos versos despertos em mim e ser presa da sua leveza, enquanto viajo ao teclado apenas para dizer, e digo: fotografia, combinar, combinar mesmo, você combinaria era com a minha, se uma, ao seu lado, eu tivesse”.
Fotografia.
Pra sempre.
Fotografia.