BRIGA DE RUA

A senha era um recado de alguém da turma:

- Fulano mandou dizer que vai te pegar lá fora.

O respeito pela inviolabilidade do lar, da escola e do local de trabalho era um combinado de ética. Não estava escrito mas agia como lei, pois o respeito age. A gente ficava organizando torcida para a briga depois da aula.

Lá fora, a turma do êh, êh, êh, êh, - atiçando. A turma do “deixa disso”, só depois que esquentava o agarra-agarra é que entrava para separar. Brigava-se por nada. Mas tinha-se uma ética da desavença. Arma, de espécie alguma. Tinha-se que ser em pé (ou mão) de igualdade. Havia outras modalidades de rivalidades: rua de baixo contra a rua de cima, bairro contra bairro, turma do bom da boca, turma do cara mau.

Não há mais briga de rua. Raridade. Resolvem-se todas as diferenças à bala, à faca, paus, pedras e machados. Quando alguém desperta os sentimentos mais primitivos em outro alguém, o caminho que o progresso humano tem indicado é o da eliminação do adversário. É bom que se diga que a violência de espécie alguma é defensável.

Teve os tempos das brigas de rua. Uma violência mais honesta e menos covarde, mesmo se um lado é mais forte que outro. Há a possibilidade da defesa e da desforra. As turmas de ruas de outrora, evoluíram hoje para as gangues de extermínio. As brigas se davam por terrenos, sim. Terrenos de namoradas, ciúmes de irmã, dos times de futebol da rua de baixo contra a rua de cima. Uma valentia gratuita, mas que nunca passava de uns safanões ou uns chutes na bunda. Nada comparado a extermínio com dezenas de tiros de atualmente. Acho até mesmo que essa turma de hoje é mais medrosa. Só tem valentia armada. Isso sem falar da violência institucional, com a qual muitos concordam quando o estado a pratica em nossa pretensa e quase sempre obscura defesa.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 14/10/2009
Código do texto: T1865036
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