Uma Manhã De Reflexão À Beira Mar

Ontem peguei um livro coloquei- o numa sacola e amarrei-a na bicicleta . Segui para pedalar no calçadão, na orla da praia. Após algumas voltas, sentei num banco da praça e comecei a ler o livro, porém fui logo interrompido.

- Moço, você gosta de ler, não?

- Com um sorriso meio amarelo respondi - Sim, claro que gosto!

- Vou deixar então este folheto. Educadamente,o recebi e comecei a ler. Era uma mensagem de cunho religioso. Silenciosamente, a mulher se afastou.

Assim que terminei de ler o texto, uma coisa de chamou a atenção: um homem de aproximadamente 78 anos, alto, pele clara, cabelos lisos e brancos, de bengala e com a camisa 9 de Ronaldinho. Logo meus olhos marejaram lágrimas de saudades e deslizaram suavemente em minha face. Lembrei-me do meu pai. Ele estaria hoje com a mesma idade. Na certa, também com a camisa da seleção, e com o coração verde e amarelo. Ele adorava ver os jogos da Copa do Mundo e torcia muito pela nossa seleção. Durante a copa, ele ficava o dia inteiro em frente à televisão. Assistia a todos os jogos, as entrevistas e mesas- redondas. Fiquei a imaginar a alegria que sentiria hoje, com a TV a cabo com vários canais exclusivos sobre esporte.

Assim que enxuguei meus olhos, uma colega chegou acompanhada de sua filha. Começamos a conversar, e mais um vez, fui interrompido. Agora por um homem de mais ou menos 30 anos.

-Moço, desculpe atrapalhar a conversa. Estive aqui há mais ou menos dois anos, e quero saber se aqui continua seguro para andar.

-Aqui tem policiamento? Respondi que nenhum lugar, hoje, é seguro e que ele não deveria ficar em locais isolados. A filha da minha amiga acrescentou : – Ali na frente tem alguns guardas.

Eu pensei que ele ficaria satisfeito com a resposta e fosse embora, mas mudou de assunto.

-Moço, minha namorada há três dias me abandonou. Estou triste, sofrendo muito. Tentei animá -lo dizendo:- Acho que você não deve se preocupar, pois como daqui a dois dias é o Dia dos Namorados, com certeza, ela está lhe preparando uma deliciosa surpresa.

Achamos aquilo um pouco esquisito e com delicadeza nos afastamos. Refletimos, então, sobre o ocorrido. Será que ele queria nos assaltar? Por isso perguntou sobre a segurança do local? Ou, simplesmente, queria iniciar uma conversa? Seria verdade o que contou sobre a namorada e ele queria apenas desabafar? São perguntas sem respostas. A verdade é que, com o mundo do jeito que está, não nos deixa a oportunidade de conversar e sentir as pessoas. A violência nos tira a oportunidade de fazermos novas amizades e muitas vezes, poder ouvir alguém que tanto precisa.

10/O6/ 2006

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 02/07/2006
Reeditado em 03/07/2006
Código do texto: T186407