Quem mandou?
Quem mandou estudar? Tivesse jogado bola, ferido o gol com o chute de matéria plástica. Quem mandou? Tivesse cantado gospel, vendido bíblias no comércio das almas. Tivesse ficado, sequer voltado ao débil sonho. Carente de Deus, onde nada existe, sobretudo onde nada existe. Tivesse estudado palavras de conforto para socorrer-me junto ao próximo. Tivesse treinado para jogar na copa, lutado para correr, saltar, pular. Tivesse ficado nu para ser fotografado.
Quem mandou estudar para simplificar, minimizar o conhecimento fraco? Quando um é três e três é um nessa vida simples, nesse ambiente calado, clássico e dramático.
Tivesse explorado a poesia com valor de mercado até a persuasão das magias do consumo.
Quem mandou gastar o tempo no exame das lendas, crenças e fábulas ao redor do mundo inventivo? O estéril mundo de joelhos rasgado pela promessa iludível. Quem mandou ser vagaroso para claudicar nesse processo estúpido? Quem mandou não ser Dirceu, Dilma ou Luis?
Tivesse mentido mais, vendido mais, acreditado nessas ilusões da estética, produzidas pela perfeição dos salários indestrutíveis. Tivesse queimado a biblioteca do leitor eletrônico para ver sorrir a mulher cibernética. Tivesse lutado contra o interior inesquecível dos passos de província. Província sonolenta meditando sem pesquisa a pouca intencionalidade do futuro.