Odoce e a vida. Doce vida?

A rodovia larga e movimentada, mais movimentada que larga, torna-se ponto de encontro para milhares de crianças, em busca do mesmo objetivo: esperar que cheguem e parem os carros cheios de guloseimas e promessas. Ficam ali, acampados, crianças de todas as idades e adultos que já nem sabem a idade que tem.

Cosme e Damião já passou, mas a cena se repete no dia da padroeira , o mesmo dia das crianças. São tantas, que fica impossível contar, enquanto o ônibus passa. Simplemente observo.

Um carro do tipo popular, pára e rápidamente à sua volta o enxame de abelhinhas em busca do néctar. Saquinhos mágicos, cheios de esperança. Pipoca, balas, pingo de leite, pé-de-moleque, e até um suspiro. Pulseirinha, reloginhos, pras meninas uma calcinha e pros meninos um shortinho. Qta geneosidade! Quebras-cabeças de R$ 1,99, ao cair, as peças voam. Dinheirinho de "prástico": Será que dá pro pão? Eita menino burro!

Criança de colo não ganha doce! Tem nada não moço, esse aqui come de tudo.

Porta-malas vazios, mãozinhas cheias de açùcar. Adiante segue o beneméritro.PAra trás, as cabecinhas se transfomam em pequenos pontinhos, até sumirem de vista. Ao longo da rodovia aguardam mais um bondoso pagador de promessas.

Ao, final do dia, imagino, expectadora que sou de minha janela, com suas sacolas cheias de doces e cansaço, sequer pensam no sal do dia-a-dia.

As balas acabaram, a pipoca esparramada pela rodovia, e vejo uma notinha de Um real, voar, levada pelo vento.

E numa parada do ônibus, vejo um menino com um saquinho, sem refletir peço:

- Menino, me dá um doce?

- Só tem suspiro, dona. Serve?