QUEM DISSE QUE EU LEVO JEITO? MAS... SERIA ISTO UM “CAUSO” DE HUMOR (REFLEXIVO)?
Nos versos que inventar
Quero rimar "tu" comigo
Porque nessa nossa história
Eu rimo mesmo é contigo
(As Rimas que eu quero – Nena Medeiros)
Fui instada a escrever um “causo” de humor. Aí eu me senti no mato sem cachorro. Mas como não sou de fugir da raia, estou cá, meio sem graça, valendo-me do surrealismo (?), tentando escrever o tal “causo”, narrando a história do Odilon, homem forte, desses de pegar touro à unha, de boa cepa, trabalhador e honesto, que ganhava a vida dirigindo (ou tangendo?) um carro de bois. Casado, pai de uma danação de filhos, vivia com a sua mulher Maria Rosa no engenho Manimbu, de propriedade do meu pai.
O Odilon só enxergava por um olho, o outro fora vazado por um coice de um boi. Temente a Deus, cumpria direitinho os mandamentos da Santa Madre Igreja. Vergonhoso que nem ele só (em conversa com as comadres a Maria Rosa confessou que nunca havia visto o marido nu e que faziam sexo por debaixo dos lençóis com a lamparina apagada e única e exclusivamente para fazerem filhos). Para se ter idéia do tamanho da vergonha do Odilon, basta dizer que nem a camisa ele era capaz de tirar na frente dos familiares.
Acontece, que o Odilon, jovem ainda, beirando os seus 37 anos apareceu certo dia, sem saber como, com umas coceirinhas. E coça aqui, coça acolá, a coisa foi se alastrando. Por mais benzeduras da comadre Cícera e meizinha com que se besuntasse não teve jeito e o seu corpo ficou uma chaga só.
E feridinho, feridinho viveu até morrer o Odilon. Todos sentiam muita pena daquele santo homem. Algumas beatas visitavam sua casa e rezavam novenas e mais novenas, acendiam velas, cantavam, intercediam em favor do coitado, mas os “anjos olheiros” lá de cima encarregados de ouvir as súplicas dos mortais cá de baixo e encaminhá-las às autoridades competentes, tavam nem ai, também, acho que eles não conheciam o Odilon da Silva e nem tampouco existia ainda o “map Google” instalado nos computadores celestiais para que eles pudessem localizar o engenho Manimbu
Olhe ai, meu caro leitor, não é só pra você que esta história não tem graça nenhuma; também não teve para o Odilon, que passou grande parte da vida trancafiado num minúsculo quarto que mandou construir nos fundos de sua casa onde vivia completamente nu por não ter condições de vestir roupa nenhuma por conta das benditas coceiras. Dispensando até a companhia de sua mulher. O pior que naquele tempo não tinha nem radinho de pilhas para o Odilon se entreter, vivia deitado numa rede forrada com folhas de bananeira, olhando pras telhas, espantando as lagartixas e vez por outra uns ratos mais afoitos que passeavam entre os caibros .
Ah, sim, quanto aos filhos, além de suas peraltices e de correrem nus pelo quintal atrás das galinhas ou fazendo careta para os sagüins, o que se ouvia - dos dez miudinhos - era toda noite na porta do quarto, um tal de “bença pai!” , que Odilon num quase sussurro respondia pra cada um: “Deus te abençoi” Juvená, Ontonho, Serafim, Tião, Joaquina, Jurema, Mané, Das Dores, Mariazinha, Zefinha”...
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Este texto foi fruto de uma brincadeira com a amiga e recantista NENA MEDEIROS em que fizemos uma troca de mote: ela publicou um causo BEM SOFRIDO enquanto eu publiquei este de “HUMOR” Veja o texto dela. Está TRISTINHO, TRISTINHO DE FAZER DÓ.
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1863187
Nos versos que inventar
Quero rimar "tu" comigo
Porque nessa nossa história
Eu rimo mesmo é contigo
(As Rimas que eu quero – Nena Medeiros)
Fui instada a escrever um “causo” de humor. Aí eu me senti no mato sem cachorro. Mas como não sou de fugir da raia, estou cá, meio sem graça, valendo-me do surrealismo (?), tentando escrever o tal “causo”, narrando a história do Odilon, homem forte, desses de pegar touro à unha, de boa cepa, trabalhador e honesto, que ganhava a vida dirigindo (ou tangendo?) um carro de bois. Casado, pai de uma danação de filhos, vivia com a sua mulher Maria Rosa no engenho Manimbu, de propriedade do meu pai.
O Odilon só enxergava por um olho, o outro fora vazado por um coice de um boi. Temente a Deus, cumpria direitinho os mandamentos da Santa Madre Igreja. Vergonhoso que nem ele só (em conversa com as comadres a Maria Rosa confessou que nunca havia visto o marido nu e que faziam sexo por debaixo dos lençóis com a lamparina apagada e única e exclusivamente para fazerem filhos). Para se ter idéia do tamanho da vergonha do Odilon, basta dizer que nem a camisa ele era capaz de tirar na frente dos familiares.
Acontece, que o Odilon, jovem ainda, beirando os seus 37 anos apareceu certo dia, sem saber como, com umas coceirinhas. E coça aqui, coça acolá, a coisa foi se alastrando. Por mais benzeduras da comadre Cícera e meizinha com que se besuntasse não teve jeito e o seu corpo ficou uma chaga só.
E feridinho, feridinho viveu até morrer o Odilon. Todos sentiam muita pena daquele santo homem. Algumas beatas visitavam sua casa e rezavam novenas e mais novenas, acendiam velas, cantavam, intercediam em favor do coitado, mas os “anjos olheiros” lá de cima encarregados de ouvir as súplicas dos mortais cá de baixo e encaminhá-las às autoridades competentes, tavam nem ai, também, acho que eles não conheciam o Odilon da Silva e nem tampouco existia ainda o “map Google” instalado nos computadores celestiais para que eles pudessem localizar o engenho Manimbu
Olhe ai, meu caro leitor, não é só pra você que esta história não tem graça nenhuma; também não teve para o Odilon, que passou grande parte da vida trancafiado num minúsculo quarto que mandou construir nos fundos de sua casa onde vivia completamente nu por não ter condições de vestir roupa nenhuma por conta das benditas coceiras. Dispensando até a companhia de sua mulher. O pior que naquele tempo não tinha nem radinho de pilhas para o Odilon se entreter, vivia deitado numa rede forrada com folhas de bananeira, olhando pras telhas, espantando as lagartixas e vez por outra uns ratos mais afoitos que passeavam entre os caibros .
Ah, sim, quanto aos filhos, além de suas peraltices e de correrem nus pelo quintal atrás das galinhas ou fazendo careta para os sagüins, o que se ouvia - dos dez miudinhos - era toda noite na porta do quarto, um tal de “bença pai!” , que Odilon num quase sussurro respondia pra cada um: “Deus te abençoi” Juvená, Ontonho, Serafim, Tião, Joaquina, Jurema, Mané, Das Dores, Mariazinha, Zefinha”...
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Este texto foi fruto de uma brincadeira com a amiga e recantista NENA MEDEIROS em que fizemos uma troca de mote: ela publicou um causo BEM SOFRIDO enquanto eu publiquei este de “HUMOR” Veja o texto dela. Está TRISTINHO, TRISTINHO DE FAZER DÓ.
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1863187