Uma verdade inconfidente
Há no Brasil uma nova mania. Uma quase tendência. Vamos reescrever nossa história. Tudo que se disse sobre nosso passado até agora é mentira.Engano. Falcatrua. É estória. Filme B para enganar os bobos. É ficção para vender livros didáticos. E aquele tal Pedro Álvares Cabral, que aprendemos o nome ainda na infância com nossa saudosa professora, não foi nenhum descobridor. Nossos coirmãos portugueses não são heróis desbravadores, mas mercenários sanguessugas que vieram até estas terras para saquear e roubar suas riquezas.
E após está mentira desfeita há mais um rosário de outras mentiras que precisam ser reveladas. E um a um de nossos heróis vão morrendo, junto de seus feitos. E nossos amigos reveladores da verdade são implacáveis em fazer justiça. Tiradentes, Dom Pedro I, Bento Gonçalves e por ai vai caindo uma série de outros ícones históricos, deixando de ser exemplo de bravura, lealdade e justiça perante os olhos de nossas crianças do século XXI. Acabou o romantismo histórico. Tudo é uma grande farsa.
Por favor senhores não me reveleis está verdade de vocês. Que feche-se os meus olhos, silenciem-se os meus ouvidos. Não manchem minhas ilusões. Eu necessito de heróis. O povo é carente de mitos. Sejamos como os gregos, que souberam criar os seus Ulisses, Aquiles, Heitor. Fazendo de sanguinários soldados, seus heróis, seus mitos. Tenhamos sua fé, pois eles acreditam. E ninguém vai dentre eles querer revelar a face da mesquinhes humana de cada um. Há uma necessidade de crer em atos heróicos. Um povo sem mitos é um povo sem imaginação, sem romantismo. Sem lideres.
Devolvam-nos nossa ingenuidade histórica. Deixem-me sonhar com o grito do Ipiranga, com a princesa abolicionista, com heróis farrapos e presidentes populistas. A arte de se contar um estória é romancia-la e transforma-la em ato histórico. Isso engrandece a alma. Da exemplos. Traz virtudes. E transforma a existência humana mais agradável.