12 DE OUTUBRO _ DIA DA CRIANÇA
Sempre me despertou uma certa indignação esses rótulos que já fazem parte do nosso dia-a-dia e cujas origens se perdem no tempo. Parece que o ser humano precisa ter um dia determinado para lembrar alguém ou certos grupos. Como uma obrigação. Como se, naquele dia determinado, eu pedisse perdão por não olhar para ele com carinho, todos os dias. Se a convivência é diária, todo o dia é dia de homenagear. Não estou me referindo a presentear. Homenagem a gente faz através do amor, da atenção, educando com nosso exemplo.
Com relação a criança, isso se torna mais delicado e exige mais cuidado. Porque um presente não preenche uma vida solitária, não apaga o desinteresse diário, a agressão verbal ou física, os maus exemplos. A criança precisa mais do que um presente num dia determinado, estabelecido, quem sabe, para beneficio do comércio e para ato de contrição dos adultos. O exemplo diário dos pais e dos que convivem com a criança, é a forma que educa. Palavras o vento leva. Exemplos ficam retidos na memória e se entranham no coração.
Para convencer uma criança a acreditar naquilo que você está dizendo e aceitar suas regras, os pais precisam ser pacientes, criativos e inteligentes. Para bater, só precisam ser mais fortes.
E o que vemos nós diariamente, tão corriqueiramente, que quase passa despercebido? Crianças surradas, sodomizadas, abandonadas. Crianças solitárias, sem mundo próprio, vivendo a margem; criadas com menos cuidados que um animal de estimação. Nada contra os animais, pelo contrário, sou grande defensora deles (sou vegetariana exatamente para não contribuir com a matança). O que me chama a atenção é o aparato todo que se dispensa a cães e gatos, que usam roupas de grife, vão a salão de beleza, hospedam-se em hotéis de luxo e até cemitério tem. Enquanto isso, nossas crianças ficam atiradas em orfanatos, suplicando por uma adoção.
Para mim, todos os dias têm que ser "DIA DA CRIANÇA". Só dispensando a devida atenção a criança, é que não teremos adultos traumatizados, enchendo os consultórios e as clínicas psiquiátricas (quando tem condições é claro; quem não tem, continuará abandonado e traumatizado).
A criança tem que receber o presente diário do amor, da atenção, do exemplo, do incentivo. Porque a criança aprende a se ver como os adultos a consideram. Se você a tratar como uma pessoa de valor, importante e atraente, ela acreditará e crescerá confiante em si mesma. Em vez de lembrar a uma criança o pouco que ela realizou, olhe e fale como se ela já fosse uma vencedora.
Concluo, com perguntas de Pablo Neruda e respostas de crianças chilenas (8 e 9 anos):
"Aonde vão parar
as coisas sonhadas?"
_ Elas vão se encontar com outros sonhos.
"Se todos os rios são doces
de onde o mar tira,
então, o sal?
_ Das lágrimas dos velhos e dos pobres.
NA: Desejo que, neste 12 de outubro, todos encontrem a criança que têm dentro de si.