Camille Desmoulins
Andei despudoradamente pelas ruas sem idéia das pessoas que passavam; como se estivesse vagando pelo deserto; veio-me a sede, bem a propósito da metáfora; fiquei impossibilitado de recitar em voz alta, como de hábito, meus poetas favoritos. Causei mais espanto do que apreensão, pois, falo sozinho de maneira sincopada, com todo cuidado para que os sons se completem com musicalidade; mais espanto do que apreensão, repito, porque as pessoas pouco se dão conta de refletir sobre fatos estranhos...estará falando sozinho? ou como diria um purista da filologia, falando de si para consigo? estaria cantando emocionado com o som dos cantantes que já se foram? Estaria ensaiando aula ou tribunal de júri? Andei despudoradamente pelas ruas sem prestar atenção às pessoas, preocupado com a memória de Camille Desmoulins morto e guilhotinado em 1794, sem qualquer consideração com seus discursos e sua ideologia; figura patética e ansiosa, mas tão extremamente apaixonado pela própria esposa, que por desencanto ou fidelidade ela também perdeu a cabeça por ele na mais rigorosa acepção do termo.