Presságio Nefasto

Quando eu mostrar-me para o mundo, abrindo as comportas do meu coração tão dilacerado, numa convulsão desesperada de rancor e emoção – de desabafo –, todos os circunstantes silenciarão. Diante de uma verdade um tanto desalentadora e um tanto lanhada, nada terão a acrescentar, a objetar... A sussurrar. Ficarão como postes de concretos, extáticos sobre a ação do tempo!

Alguns chorarão taciturnamente, outros, envergonhados, conterão as lágrimas. Eu estarei como um balão inflado que explode inesperadamente, restando somente os pedaços espalhados pelo chão. Mas terei cumprido a missão, como um visionário – um mensageiro apocalíptico que evoca seus presságios nefastos contra uma turba incauta e sobressaltada.

Todos sentirão o poder estrambótico de minhas proféticas palavras! Desafogarei das profundezas do mar revolto do meu coração as emoções ocultas e singulares que, aglutinadas às expressões do meu discurso frenético, sensibilizará, em tom de respeito e comoção, cada um dos presentes. A partir de então, não serei mais uma sombra esquecida nos escombros da cidade, desprezada e humilhada, e sim, um honorífico e conclamado orador de verdades inconvenientes.

(Escrito em 2006/2007)