MULA DA IGNORÂNCIA

Todos os dias vejo o menino passar puxando uma rústica carrocinha de madeira, carregada de papelões e garrafas de plástico.

Sei que é dessa atividade que ele tira seu sustento .

Percebo em seu rosto infantil, uma alegria mesmo ao ver outros meninos de sua idade, brincando na rua de “pelada” ou até mesmo disputando uma corrida de bicicleta.

Será que ele estuda ?

Não sei !

Será que tomou café da manhã ?

Impossível saber !

Assim como, impossível saber quais são seus sonhos.

Sei que ele os tem, pois seu rostinho diz isso. Talvez ele os procure nesta atividade desenfreada, quase desumana para uma criança. Talvez ele esteja misturada entre os papelões e garrafas.

Penso: que perspectiva de vida, essa criança tem ?

Os papelões, deveriam ser substituídos pelo papel de nossos programas sociais !

Porem não vejo isso; vejo sim o verdadeiro papelão da omissão.

Vejo uma infância roubada, perdida num papel mal escrito da vida !

Às vezes, acho que quem o escreveu, legou à nós o direito de reescrevê-lo; adaptá-lo ao nosso tempo, mas nos omitimos e mascaramos nossas obrigações.

Todos esses pensamentos passam por minha cabeça num atmo de segundo.

E lá vai o menino puxando sua carrocinha com papelões, garrafas, sonhos e nossas indiferenças, tal qual uma mula; a mula de nossa ignorância.