Amor Platônico
Mesmo que não esteja perto, o coração dispara só com o simples pronunciar do nome. Mesmo sem nunca beijar, sentimos o gosto. Mesmo sem nunca ter tido, sentimos saudades.
Como se só o amor sozinho não bastasse, por causar maremotos e destruição em massa, ainda inventaram um tal de amor platônico.
Alguns dizem que o senso comum se encarregou de roubar a nomenclatura e entendimento errôneo da filosofia de Platão, para definir aquele tipo de amor que sentimos por alguém que nunca tivemos. Um amor perfeito e idealista que criamos e imaginamos o outro um ser primoroso.
Aquele que serve para ser o pai dos filhos, aquele que por convicção nossa, ou simples achismo, é inteligente, bem humorado, bonito, sensual e nem é pão-duro! É com ele que passamos as noites em claro, ou quando conseguimos dormir, ele invade nossos sonhos. É por ele que escrevemos poemas, e é ele que nos faz suspirar; aquele suspiro de garota apaixonada que aparece nos finais de novela.
Se Platão caiu de pato nessa história, eu não sei - não tive tempo de ir ao Google. Mas se fizermos um esforço e lembrarmos das aulas de Filosofia, talvez a definição não seja tão equivocada. Afinal, o que mais fazem aqueles que amam platonicamente, do que projetar as sombras e acreditar que é somente essa realidade que existe? Nós, literalmente quando vivemos esse tipo de amor, damos as costas para o mundo, não olhamos ao nosso redor e acreditamos que se não for com aquela pessoa, não será com outra que se conhecerá o que de fato é felicidade.
O pior, ou melhor, é que todos já sentiram um dia, ou se ainda não sentiu, não se desespere, pois não existe idade, e nem prazo de validade. Dura, dura muito! É mais fácil esquecer um ex-namorado, do que esquecer um amor platônico. E sabe por quê? Por que conhecemos de traz para frente os defeitos de um ex. Lembramos com amargura cada “pisada na bola”, cada palavra ofensiva, cada presente sem graça, cada transa ruim... Agora, um amor platônico é belo, é perfeito. Por mais que tentamos, não conseguimos enxergar um só defeito.
Nesse tipo de amor, colocamos o ser amado, como se fosse até melhor do que nós mesmos. Com ele, missa de domingo vira programa, Zorra Total fica engraçado e até série D vira Copa do Mundo. O dia fica azul, pimenta fica doce e goiabada vira sobremesa!
E é exatamente por tudo ser perfeito, claro, como nós idealizamos, é que demora ainda mais para passar. Meses, anos, décadas... Alguns acreditam até que nunca esquecemos, porque sempre ficará o gostinho de “e como teria sido?, “quem me dera”, “e se...”.
O triste do amor platônico, é que as recordações permanecem só na memória. Não há presentes guardados, nem bilhetinho de bala, nem fotos, nem música, nem sabor...
Como podemos amar se nunca tivemos? Lamento em dizer, mas neste tipo de amor, não há um ser superior, dono de conhecimento e super evoluído que solte suas amarras, para te livrar dessa triste escuridão e levá-lo para a realidade.