Frágil navegação
Em nome da lucidez critica jornalista é aquele sujeito condenado a situações de risco em nome do próprio salário. Jornalista ou repórter acabam representando o hilariante papel de guia das almas numa postura cerebral de lucro e risco.
No caso dos sete dias de navegação pela Lagoa Mirim valeria lembrar por princípio que a lagoa é o túmulo dos incautos. Funciona assim: o dono do negócio contrata os aventureiros como quem manda o Che Guevara à Bolívia. A estratégia é boa, mas as condições péssimas, ou melhor, econômicas; de onde vem o desejado lucro. Assim parte o barquinho, tipo casca de camarão, com a turminha de encontro às ondas lacustres de quase oito metros. Vagas que invadem o barco do veterano caboclo que há meio século singra as águas pesadas do extremo sul, e não possui dinheiro para aquisição de embarcação moderna, confortável e segura. Do tipo que o dono do negócio preferiria.
Ponto alto da reportagem: o caíque quase a pique na missão precária e de baixo custo. Moda da profissão. Profissional do lucro informativo deve se agitar nos baixios traiçoeiros. É o que manda a cartilha acadêmica. Em meio as águas agitadas da Lagoa Mirim, espelho do mar, as pobres criaturas aflitas, intelectuais flutuantes, descobrem um motor sem retificação há pelo menos quinze anos. O toró é de meter medo na hora que já era tarde.
Além do futuro minguado, ainda que repleto de aventuras rumo ao topo, vem o frio no mundo que não raciocina partindo do fato transcrito, mesmo imitando a realidade. O heroísmo idiótico é um prêmio dedicado à vencedora do concurso jornalístico “itinerário da pauta” no samba da profissão. Que prêmio maravilhoso! Para intelectual nenhum botar defeito, mesmo os flutuantes. Nada parecido com os documentários estrangeiros que nos deixam boquiabertos demonstrando alta tecnologia no transcurso das grandes dificuldades em meio as melhores condições. Fato imitativo, porém inigualável.
Assim enriquecem os donos da coisa informativa com os melhores subsídios para o olhar atento das imagens reais.