Texto para um dia de estourar bolinhas.
Alexandre Menezes
A gente cresce só que deixar de ser criança é complicado. Meu pai sempre dizia que, na realidade, apenas mudariam os preços e as utilizações dos brinquedos. Vários que ganhei considerava bastante chatos. Geralmente agradecia, tirava das caixas, brincava um pouco e logo guardava. Sempre preferia atividades mais dinâmicas e, de preferência, realizadas na rua e de forma coletiva porque sempre gostei de gente, mas existia um vício monótono: o de estourar bolinhas.
Ficava bastante contente quando os brinquedos eram cobertos com plástico bolha. Estourar aquelas bolinhas, por um grande período da vida, foi mesmo um vício. Todas às vezes que via uma caixa grande sendo entregue à casa de alguém, logo corria para pedir o plástico e, quando conseguia, estourava até a última. Inclusive, em dias de ansiedade, cheguei a comprar para ficar de bobeira em casa estourando.
Com o tempo, muitas dessas coisas são abandonadas, mas só que percebemos fortes influências das brincadeiras da infância na vida adulta. Querendo ou não, mais cedo ou mais tarde, quase todos que puderam viver essa fase da vida como realmente deve ser vivida notam isso. As mulheres vaidosas provavelmente vestiram as roupas das mães, borraram-se com as maquiagens, tropeçaram nos sapatos folgados de saltos e, é claro, levaram broncas.
É comum a observação do comportamento dos homens e seus carros. Horas são perdidas com lavagem e cuidados que, para muitos, são desnecessários. Provavelmente foram como aqueles nossos colegas que adoravam seus carrinhos e morriam de ciúmes deles. São tantas situações relacionadas e presentes que em quase tudo há marcas da nossa infância.
Como ouvi no passado, as coisas realmente mudam de preços e ganham outras utilidades. Confesso que foi bastante gratificante encontrar um jogo chamado “Estoura Bolhas Virtual” e até perdi algumas horas com ele. Melhor ainda foi descobrir que as bolinhas poderiam ser separadas, preenchidas, aromatizadas e estouradas a dois de forma bem mais interessante.
Não mais me atrevo a estourá-las sozinho. Ainda trancado em algum lugar, e misturado a brincadeira de “esconde-esconde” que fazia na rua, as bolinhas do presente são bem mais prazerosos, dinâmicas e divertidas. Antes queria tê-las nas mãos a todo custo só pra mim. Hoje, adoro saber que alguém as esconde a espera de carinhos para que elas possam explodir trazendo perfumes, temperaturas e prazeres que sempre é tão bom descobrir. Os pais algumas vezes erram. É bem verdade que a utilização mudou bastante, mas estourá-las passou a não ter preço. Salve as bolinhas.