As migalhas do som da tua voz...

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Telefone tocava, coração aos pulos, suava frio, corria para atender, pensava ser ele... Não sendo ele – que droga de telefone tocando – não falava, não ouvia, somente murmurava, a cabeça em outro lugar... Cadê ele?

Por que não liga?

Por que não?

Por quê?

Telefone tocava, coração aos pulos, suava frio, corria para atender, pensava ser ele... Sendo ele, não falava, mas ouvia, nem murmurar conseguia... a cabeça em outro lugar... Naquele em que pensava ser ele somente seu... E sabia que não era... Mas isso não importava... Ele estava ali! Ele está aqui! Ele está...

As palavras: namoro (que havia terminado), viagem (que não tinha dado certo), emprego (que tinha ido pro beleléu), parentes (que estavam adoentados)...

“Preciso desabafar” – dizia ele... E você, você é a única que me entende – acrescentava...

E ela ali, suando frio, pensando nele, ouvindo sem ouvir, murmurando sem murmurar, com a cabeça... a cabeça em outro lugar... Qualquer um... desde que fosse com ele... O paraíso... embalado pelo som daquela voz...

Suspirou... E mais uma vez prestou atenção ao som que vinha do outro lado...

“Que bom que o telefone tocou”...

(Adriana Luz)

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