NO METRÔ DE BUENOS AIRES

Um desfile de acontecimentos interessantes e muitas vezes divertido invariavelmente é destaque no vai e vem de qualquer metrô do mundo. O de Buenos Aires, como é óbvio, não seria exceção. Às centenas, eles utilizam esse meio de transporte o dia inteiro para lá e para cá, havendo o costumeiro tumulto nos horários de pico como ao meio dia e às cinco da tarde.

Geralmente os que aguardam o metrô ficam ansiosos e lançam olhares de quem está pensando "parece que ele não chega nunca", muito embora a demora seja praticamente insignificante. Mas o espetáculo pitoresco aos olhos de quem está passeando começa antes mesmo da chegada do metrô, a multidão à espera nas duas plataformas, alguns lendo jornais, outros nervosos olhando a hora no relógio de pulso de vez em quando, e tantos e mais tantos escondidos no ruge-ruge com suas próprias características povoando o anedotário humano.

Quando o imenso trem subterrâneo, surgindo ao longe com aquele rugido característico e tonitroante, aponta seus dois imensos faróis na distância parecendo uma cobra gigantesca, o desrespeito começa com cada um querendo ser o primeiro a entrar para conseguir lugar onde sentar. O empurra-empurra é geral à abertura das portas, e quem for idoso ou frágil que se cuide para não cair.

Nem bem o monstruoso trem trava as portas e começa a deslizar a uma velocidade estonteante, os passageiros acomodados de qualquer maneira e se segurando como podem e onde for possível, os pedintes dão o ar de sua graça iniciando a cantilena por demais conhecida de quem é usuário de transportes coletivos. Eles são os grandes campeões de presença rotineira e se distribuem por todos os vagões, a mão estirada no gesto de pedir, a voz num tom excessivamente piegas e o semblante contrito de quem é presa das piores e mais horrendas agruras. Mendigam a cada um dos apressados passageiros até o metrô parar na próxima estação e recomeçar o sobe e desce de gente louca para chegar o mais depressa possível ao seu destino.

O metrô, também, é palco para mendigos um tanto mais sofisticados, tais como os cantores, mirins ou adultos, que desfiam suas músicas horríveis e depois passam o chapéu por entre os seus forçados ouvintes. À maneira das tempestades inesperadas, eles vão se aproximando de repente, adentram o vagão cheio e de pronto se manifestam conforme o talento que entendem possuir. Quando terminam suas cantorias, imagine só, pedem aplausos e se imiscuem em meio ao povo a quase exigir "pagamento" por sua indesejada apresentação. Ora, vejam!

Ah, e os vendedores de inutilidades que nem perguntam ou falam nada ao se aproximar das pessoas, simplesmente vão jogando sobre elas as suas bugigangas e depois voltam com a maior cara de pau para receber o valor do objeto? Além desses, que geralmente são inúmeros a exemplo dos pedintes usuais, é claro, ainda há os surdos, deficientes visuais e aleijados dando o ar de sua graça à procura de esmolas. Talvez seja essa a razão de percebermos o ar de alívio nos que descem rapidamente quando o metrô pára nas estações ao longo do seu caminho.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 09/10/2009
Reeditado em 13/10/2009
Código do texto: T1856791
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