Boa Esperança
Faz algum tempo que perguntei para minha esposa sobre seu pensamento em relação as minhas crônicas. Meu espanto foi saber que achava a obra autobiográfica e acreditava merecer certo amadurecimento – como aconteceu com meus poemas, já há algum tempo. Meu amigo Felipe Fiorenze (artista e palhaço) indicou o livro “Caminhada”, do premiado escritor alemão Hermann Hesse. Neste, o autor fala sobre suas peregrinações, o pensamento de tristeza, seus prazeres e crenças (algo totalmente autobiográfico). Decidi continuar escrevendo sobre minhas histórias, pois assim desenvolvo o texto com prazer e emoção.
Então esta crônica vai contar sobre o amor que sinto por Minas Gerais. Em setembro de 2009 participei do Festival Nacional da Canção na cidade de Boa Esperança. Quanta poesia existe naquelas ruas! Quanto amor, quanto tudo! Sempre pensei que o jeito carinhoso, solidário e poético de agir já não existia há muito tempo... E que surpresa agradável! Os mineiríssimos de Boa Esperança são humanitários até ao negar um pedido – coisa que é feita com pouquíssima freqüência.
Todos nós, participantes do festival, compartilhávamos desta pureza. Tanta educação imperando em um povo simples e humilde que eu – poeta que necessita de tais cuidados para viver feliz – parecia estar caminhando em um chão de nuvens doces. Tive até problemas sérios, pois, levei apenas um exemplar em CD de minha obra e os irmãozinhos da cidade ficaram injuriados com tal fato, discutindo ferozmente quem iria ficar com o material.
No dia posterior a apresentação fui bajulado por elogios de ordem musical em todos os cantos da cidadezinha. Antes de partir tive que trocar um cheque de valor alto – coisa difícil de fazer em qualquer canto de nosso país (garanto que se fosse a minha terra, não haveria cambio gratuito). Efetuei a troca em um comércio simples que ficou feliz em ajudar. Aspirei com louvor a verdadeira vida de poeta naquele lugar... Um dia hei de voltar para passar mais tempo.
Agora estou no Rio de Janeiro onde, periodicamente, apresento minhas canções e poesias. É bom viver a vida assim (se gasta mais dinheiro, entretanto é assim que consigo ficar feliz). Pude realmente ser a pessoa feliz e despojada que busco em meu âmago. Contudo, quero que saibam de algo. Preciso urgentemente voltar... É que na minha terra há uma mulher com a magia e o fervor carioca, a poesia mineira, fibra paulista, devoção gaúcha e tudo de doçura que existe em todas as mulheres brasileiras. Essa mocinha de olhinhos de poesia rima com a palavra feliz e está me esperando com abraços, amor e uma jantinha especial que só ela sabe fazer. É essa meiguice que faz meu mundo ficar vivo – pois não haveria mar, nem céu, nem Boa Esperança, nem nada! Aguarde-me poesia morena, que estou chegando com todo o amor do nascer do sol.