107 - DESMISTIFICANDO A MULA SEM CABEÇA ...
Figura da internet
Todo dia ele saia do trabalho direto para a cidade. Ninguém da sua família sabia pra onde ele ia, mesmo que soubessem jamais iriam tocar no assunto. Homem comum, hábito comum naquela época.
Sua função na empresa lhe dava oportunidade de ouvir o ronco do motor até de olhos fechados. Por algumas vezes, quando foi apanhado dormindo no serviço, teve que despistar o encarregado abrindo os olhos benzendo-se e dizendo que estava rezando.
Noites e noites e noites passadas na gandaia e mal dormidas, portanto, deixavam-no na “capa” durante o dia. Para o bem da verdade capa não lhe faltava. Andava sempre com duas ou mais na garupa do animal, uma mula com sete palmos de altura que tal como na música chama-se “Soberana” e tinha ao redor das patas dianteiras um anel branco que lhe dava um estilo e figura especial e única na cidade e ao redor.
Quando chegava às águas espraiadas, (cá pra nós: água espalhada), local que concentrava as casas que compunha a zbm, ele tinha uma preocupação em deixar sua montaria num beco e coberta com duas capas até a cabeça e uma boa quantidade de milho dentro de um embornal preso à cabeça do animal. E também era comum nas altas madrugadas sair em direção a sua casa no acampamento dos empregados da empresa nos arredores da cidade sem tirar as capas de cima do animal.
Enquanto isso o Juca, filho do sacristão, cansado da rotina de sair do serviço na alfaiataria e ir para o Bar Columbia tomar umas e outras, desta vez o Juca aceitou ir com seus amigos para dar uns bordejos, como ele gostava de falar lá na “rua de baixo”, como se estivessem, mal comparando, fazendo “uma via nada sacra. Iam de bar em bar”.
Lá pelas tantas da madrugada fria chegaram a uma “casa das meninas”. O Juca viu um animal coberto com duas capas, tipo Ideal, cobrindo todo o animal até as patas. Juca arrepiou-se dos pés à cabeça quando percebeu que já conhecia aquela mula pelas patas com anéis brancos ao redor.
Já a vira umas tantas vezes a passar defronte sua casa nas muitas madrugadas com a cabeça coberta e soltando respiração ofegante pelas narinas que contrastando com o frio da madrugada “parecia estar soltando fogo pelas ventas”.
Muitas vezes o Juca se encolhia todo atrás do portão de madeira feito em réguas na lateral da casa do padre ele onde morava quando ouvia o trote da mula sem cabeça passando e machucando as pedras de minério de ferro do calçamento soltando chispas pelo rompante das ferraduras.
Neste momento o Juca entendeu que o que aprendera desde criança, era só um mito. “Nunca existiu mula sem cabeça!” Ou ele já estaria bêbado demais?! Pelo o resto dos seus dias e ficou a repetir: - Não existe mula sem cabeça! - Não existe mula sem cabeça! - Não existe mula sem cabeça!
Itabira - out. 2009
ITABIRA - 9 DE OUTUBRO DE 2009 - 161 ANOS DE PROGRESSO.
Figura da internet
Todo dia ele saia do trabalho direto para a cidade. Ninguém da sua família sabia pra onde ele ia, mesmo que soubessem jamais iriam tocar no assunto. Homem comum, hábito comum naquela época.
Sua função na empresa lhe dava oportunidade de ouvir o ronco do motor até de olhos fechados. Por algumas vezes, quando foi apanhado dormindo no serviço, teve que despistar o encarregado abrindo os olhos benzendo-se e dizendo que estava rezando.
Noites e noites e noites passadas na gandaia e mal dormidas, portanto, deixavam-no na “capa” durante o dia. Para o bem da verdade capa não lhe faltava. Andava sempre com duas ou mais na garupa do animal, uma mula com sete palmos de altura que tal como na música chama-se “Soberana” e tinha ao redor das patas dianteiras um anel branco que lhe dava um estilo e figura especial e única na cidade e ao redor.
Quando chegava às águas espraiadas, (cá pra nós: água espalhada), local que concentrava as casas que compunha a zbm, ele tinha uma preocupação em deixar sua montaria num beco e coberta com duas capas até a cabeça e uma boa quantidade de milho dentro de um embornal preso à cabeça do animal. E também era comum nas altas madrugadas sair em direção a sua casa no acampamento dos empregados da empresa nos arredores da cidade sem tirar as capas de cima do animal.
Enquanto isso o Juca, filho do sacristão, cansado da rotina de sair do serviço na alfaiataria e ir para o Bar Columbia tomar umas e outras, desta vez o Juca aceitou ir com seus amigos para dar uns bordejos, como ele gostava de falar lá na “rua de baixo”, como se estivessem, mal comparando, fazendo “uma via nada sacra. Iam de bar em bar”.
Lá pelas tantas da madrugada fria chegaram a uma “casa das meninas”. O Juca viu um animal coberto com duas capas, tipo Ideal, cobrindo todo o animal até as patas. Juca arrepiou-se dos pés à cabeça quando percebeu que já conhecia aquela mula pelas patas com anéis brancos ao redor.
Já a vira umas tantas vezes a passar defronte sua casa nas muitas madrugadas com a cabeça coberta e soltando respiração ofegante pelas narinas que contrastando com o frio da madrugada “parecia estar soltando fogo pelas ventas”.
Muitas vezes o Juca se encolhia todo atrás do portão de madeira feito em réguas na lateral da casa do padre ele onde morava quando ouvia o trote da mula sem cabeça passando e machucando as pedras de minério de ferro do calçamento soltando chispas pelo rompante das ferraduras.
Neste momento o Juca entendeu que o que aprendera desde criança, era só um mito. “Nunca existiu mula sem cabeça!” Ou ele já estaria bêbado demais?! Pelo o resto dos seus dias e ficou a repetir: - Não existe mula sem cabeça! - Não existe mula sem cabeça! - Não existe mula sem cabeça!
Itabira - out. 2009
ITABIRA - 9 DE OUTUBRO DE 2009 - 161 ANOS DE PROGRESSO.