Eu quis ser homem um dia...

Só eu no meio de muitos irmãos, queria ser homem também! Principalmente por causa da liberdade que eles tinham, iam e vinham sem dar muitas satisfações. Até invejava o aparelhinho prático que eles carregavam de nascença. Por nada, não. O que eu pensava é que na hora do aperto seria muito mais fácil, como eu via de fato...

Hoje, enxergo tudo bem diferente. Se eu fosse homem, teria que fazer a barba todo santo dia, que saco. Depois do banho, vestir calça, camisa de colarinho apertado e dar nó na gravata. Tomar café em pé, passar a mão nos bolsos pra ver se estava tudo lá: documentos, dinheiro, lenço, chaves. Não esquecer a pasta. Pegar o paletó, dar um beijinho na mulher, e sair correndo. No trânsito engarrafado, bufava de olho no relógio. Ligava o rádio, ouvia notícias, procurava escapar por uma brecha pra chegar mais depressa.

No escritório, mal cumprimentava a secretária, ela já me entregava um monte de papéis. Nem dava pra ler os jornais. Depois, reuniões e mais reuniões. Com diretores, engenheiros, fornecedores. Assinava aquela batelada de cheques. Atendia o telefone o tempo inteiro. Almoçava falando de negócios, voltava pra lida e de lá só saía depois do sol se pôr. Chegava em casa extenuado. Ufa!

E na hora do jantar ainda tinha que ouvir bla-bla-blá da minha querida! Seria vida?

Não a que Deus me deu...