O Sopro da Musa

Qual seria o título daquele texto? - ela se perguntava. Olhou para o teto, mordeu a ponta da caneta; seus olhos se perderam em algum ponto entre esse mundo e as outras dimensões do pensamento, onde contam os poetas, a inspiração nasce. Porém, o título não vinha e ela implorava aos quatro ventos que levam e trazem poesia: "Tragam-me um título?"

Tinha escrito um texto fantástico, onde narrava a busca de uma jovem, que certo dia, ousou plantar perguntas e estava colhendo respostas. Sim, ela tinha escrito o texto da sua vida e as letras revelaram que ela tinha talento para a escrita.

Não lembrava ao certo em que momento se apaixonara pela literatura, mas desde muito cedo, palavras lhe eram sussurradas; trechos de textos que ela nunca tinha lido, surgiam escritos na sua cabeça e se equilibravam na ponta da sua pena pedindo passagem. Quis a providência que um mentor aparecesse, um velho escritor de crônicas; e que ele lhe desse o primeiro empurrão: uma folha em branco!

Ela fez da folha um palco e soltando-se, dançou ciranda com as letras, baião com as vogais e valsa com as consoantes; e de mãos dadas com as sílabas; criou seu primeiro texto, depois o segundo, daí um baile de palavras começou na sua mente enchendo o salão de pensamentos que caiam em frases dançantes nos seus cadernos, e ela percebeu, finalmente, a magia de escrever.

Contudo, cada texto é um desafio, e batizar aquele com um título estava sendo uma jornada, onde ela tentava cobrir as letras peladas com um significado vestido. Ela sabia que apesar de já ter escrito outros textos; aquele pedia um toque especial; ele era quase uma iniciação espiritual; por isso, ela queria o "Título dos títulos".

E no meio do redemoinho branco da falta de palavras; entre a parede e o texto sem cabeça, ela notou uma imagem se formando como se fosse uma miragem; as formas de uma mulher foram surgindo e essa figura feminina de extrema beleza, vestidos longos e cabelos ruivos cumpridos, olhou para a escritora e soprou em seu ouvido o título que daria vida ao seu escrito.

A escritora não sabia, mas logo desconfiou, acabara de ver " A Musa"; essa entidade inspiradora que sopra letras nos ouvidos dos escritores; que se veste de lua para os poetas; que dança em notas para os músicos e que se faz matéria prima para os escultores. Dos artistas, Ela é a Deusa; para os homens, a própria arte que se fez pessoa.

No sopro da Musa, a escritora compreendeu que ganhara um presente por todos os esforços seus e ao coroar o seu texto com o título soprado, ela sabia que acabara de desbravar um longo caminho em direção as estrelas, com a benção da Musa e com os pés calçados de letras.