Reflexões de pai para filho

Aprendi com a vida e comigo mesmo que a maturidade traz a sabedoria e que o homem é um ajuntador de experiências e por isso ele evolui com os anos vividos. Embora inocentes, os pecados dos infantes são tão veniais quanto o são seus parcos anos vividos. Um homem maduro deve andar mais próximo dos acertos e dos consertos. A criança anseia pelas descobertas proibidas, verga, mas não se quebra. A maturidade exige de todos nós que façamos escolhas, tomemos decisões fortes. Por que digo tudo isso nesta crônica?

Recentemente, bem recentemente mesmo, ao fim de mais um dia de trabalho árduo nos hospitais por onde exerço minha profissão de médico, ao abrir o meu lap top, deparei-me com uma crônica belíssima que falava acerca da reflexão da vida e do seu cotidiano, feita por ninguém menos do que o meu próprio filho Abel. Não posso esconder que tive que enxugar as lágrimas várias vezes para poder lê-la até o final e relê-la. Senti-me diante do maior fascínio que um pai poeta e escritor poderia receber.

Hoje faz um mês que eu a recebi bem embrulhada, perfumada, inclusa em um e-mail que ele me enviou. Precisei hibernar dentro desse tempo gasto para não me exceder na tessitura desta e descrever também de forma exagerada acerca da quantidade exata de brilho que eu vi luzir nas linhas e nas entrelinhas da referida crônica. Não podia nem devia aumentar o tamanho da estrela do jovem escritor. Glória sobre glória e eu me alimentei de certa vaidade honrosa ao ler nas palavras do meu filho, exatamente o que pensa a minha alma. Ele parira com cores aproximadas o que a minha experiência de vida pudera fazer ao atravessar meio século de existência.

A partir dessa leitura inusitada que eu fiz, pude perceber e dela depreender que há frutos belos que a vida aflora e me presenteia, quando a maturidade me faz companhia e me pede para me aproximar da essência da vida. Mas o Abel jamais me enganou. Foi e é um buscador fervoroso lúcido de tais reflexões. Desde pequenino, ele lançava o seu olhar infante para as estrelas do céu e me indagava, como um anjo, acerca do firmamento, sua criação e seus mistérios. Perguntava-me com uma autoridade incomum à sua idade. Perguntava-me sobre ele, sua existência, o porquê de haver começo e fim para as coisas do mundo. Ele trazia em suas entranhas um modelo santo de sabedoria que me fascinava. Era sempre assim, à época, o meu pequenino Abel. Havia nele uma fome de descobertas.

Abel, configura-te hoje como um fruto doce que a criação divina me permitiu ter na vida. Tu trazes na carde o dom da escrita. Escreves com a profundidade dos escritores que já têm muitos anos de estrada. Que bom! E, quem sabe, o tempo ainda não nos permitirá , quando a tua sabedoria não mais tiver receio de avançar com passos mais largos, nós não possamos tecer uma outra crônica sobre as nossas reflexões juntas acerca da vida? Eu estarei a esperar por tua vontade. Ser-nos-á deveras interessante. Proponho-te, filho amado, que, antes mesmo de iniciarmos o texto, nós nos presenteemos com um longo abraço de esperança e paz.

Finalizo esta crônica dizendo-te: “Eu sei que vou te amar eternamente porque as minhas mais legítimas reflexões de vida me convenceram desse entendimento maduro”. Meus parabéns por sua tão mimosa crônica “Um breve ensaio sobre a vida.”