Diz o Dito Popular
Os ditados, os ditos populares nos fascinam. Encerram uma sabedoria que vem das pessoas simples. Esses poetas, filósofos, historiadores, cientistas sociais que o povo produz. Tudo aquilo que alguns que fazem (ou fizeram) faculdade pensam que são.
Minha mãe, como muitas outras mães, conhecia vários. Lembro muito de um que ela falava sempre: “morre um pra bem de outros”. Nos dias de hoje e de sempre, o seu oportunismo é incrível. O bem dos outros começa muitas vezes no dia seguinte ao enterro do um. Não só com o que foi deixado, mas também com o esquecimento. Em alguns casos, crimes contra a pessoa que se foi são prescritos, para o benefício de quem os cometeu. E de seus descendentes. As pessoas que se foram são esquecidas depressa. Getúlio Vargas é um nome que nos remete mais à conhecida avenida que ao estadista.
Não se pode reclamar. Parece um rito, uma ordem. Na medida em que é cada vez mais natural – se há cada vez mais pessoas, há mais mortes –, é também cada vez mais atual.
E para que nos esqueçamos mais depressa ainda dos que se foram, estão aí os bens que auferimos com a morte deles. Pai, amigo, mãe, irmão, sociedades beneficentes, etc., todos acabam lucrando.
O instituto da herança manda o defunto pra Conchinchina, pra não dizer outro lugar. Todos queremos – ou simplesmente ficamos com o que ele deixou. É a norma.
Os ditados, como esse de que estamos falando, explicam leis com a da causa e efeito. As pessoas adubam a terra. Integram o ciclo da vida. Não deixam apenas bens, mas idéias que, melhoradas, transformadas ou pioradas, serão de alguma forma aproveitadas. Para o bem (ou mal) dos outros.
E os dias correm. Até quando tivermos de ir, e de talvez ter o que deixar também. Para o bem de outros.
Rio, 22/10/1997