VACINAR PRA QUÊ?
A IGNORÂNCIA DO POBRE ANALFABETO NÃO TEM LIMITE.
- Está morto, seu Zeca. Este é o fato!
- Mais assim, duma orinha pra outra sem tê nem praquê?
- Exatamente como estou lhe dizendo. Morreu e pronto.
- Mas dotô, cuma é qui podi uma coisa dessa? Ônti mesmu êli tumô a tar vassina qui u guvernu manda i tava bonzim pulanu de alegri aqui nu terreru, e ôji ta dessi jeitu...
- Pois é seu Zeca, a vida é mesmo assim. Quando menos se espera, a morte vem e carrega ela.
- Num tô criditano nissu. Ô Maria vem vê u qui u dotô ta dizenu. Êli dixi que Juvená ta mortu e prontu.
- Dexe di bestera ômi. Si o dotô dixi é pruquê êli sabe das coisa. Tu vai querê sê mais sabidu qui êli vai?
- Mais Maria si fossi eu ou tu tava baum proquê nois é veiu, mais Juvená naum, Juvená era moçu, chei de fôça pru trabaio, era dispostu pra tudu. Num mi confoimu dotô!
- Se o senhor quiser eu faço uma necrópsia nele.
- Pru jesuis, qui diabu é issu di necró... necró u quê dotô?
- Eu abro a barriga dele e vejo se encontro algum indício que possa levar a causa da morte.
- Vigi Santa! U sinhô qué abri Juvená pra vê o qui êli tem pru dento?
- Isto mesmo seu Zeca. Assim a gente faz com todos que morrem de causas desconhecidas pra se chegar aos motivos pelos quais eles morrerram.
- Nã-nã-nin-nã-naum! In juvená u sinhô num vai fazê issu naum. Ondi já si viu pegá uma faca i abri o coitadu anssim nu meiu feito uma jaca madura...
- Dexa pai o dotô abri êli!
- Cala a boca mininu qui num pidi sua opiniaum. Isso aqui é coisa di genti grandi num é pra mininu curiosu qui nem tu naum.
- Mais pai só anssim nois fica sabenu pru qui foi qui êli morreu...
- Já dixe qui num e prontu. In juvená ninguém mexi.
- Mais pai, ôji di madrugada eu iscutei êli ispirrano muitas veiz. Vai ver qui êli ta com aquela tar di gripi du poicu. Diz qui ela é muito pirigosa e já matô um bucadu de genti pelu mundu.
- Olhe seu Zeca, se o senhor disse que ele tava bonzinho ontem e morreu sem mais nem menos, acho melhor a gente fazer a necropsia. Ainda não vi ninguém morrer e ficar com a barriga tão inchada de uma hora pra outra como ele. Se foi de uma doença contagiosa, por exemplo, a gente precisa examiná-lo e descobrir o mais rápido possível. Assim podemos salvar muitas vidas.
- Duvidu muitu dotô qui êli morreu pru conta di gripi, inda mais dessa ai qui Beroaldo falô. Nunca vi juvená cumenu carne de poicu.
-Ônti na festa di Rozinha tinha muita cumida. Vai vê pai, ele cumeu um pedaçu de poicu i a genti num viu.
- Como médico, acho improvável Beroaldo! Deixa eu abri-lo pra ver se descubro a causa.
- Si num tem outro jeitu dotô... Mi discupi veio amigu juvená pelas cruedade qui vaum fazê cuntigo, mais é pru bem da umanidadi... Deus mi perdoi, amem. Podi abri dotô!
...
- Que diabos o senhor deu pra ele beber ontem a noite seu Zeca? O estômago dele está cheio de um líquido escuro e todo tomado por gases.
- Êli gosta muitu di bebê cardu di cana dotô. Lá na festa du cazamento di Rozinha num tinha, i cumu êli tava cum muita sêdi, eu dei uma tar di coca-cola pra êli bebê. Achu qui dei umas treis garrafa daquelas grandi di prasticu qui tava sobranu em riba das meza i êli bebeu tudim.
- Então foi isto seu Zeca! O senhor deu seis litros de coca-cola pra ele tomar de uma vez só. Isto não se faz com ninguém.
- Mais dotô us mininu toma issu i num faz má pru qui diabu ia fazê pra juvená?
- É que gente, sabe arrotar pra tirar o gás do estômago, mas um animal não sabe. O senhor matou seu jumento por causa de uma super dose de coca-cola.
- Valei meu padim Ciçu! Eu tantu qui briguei cum veterinaro até êli dá ama doze da tar vassina da afitoza em juvená. Será qui vassina cum coca-cola faiz má dotô?