Sob Nova Direção
Você está acostumado a freqüentar a padaria da esquina. O pão está sempre quentinho, os frios são cortados na espessura ideal, o atendimento é gentil. Um dia, ao passar em frente ao local, vê uma enorme faixa pendurada sobre a porta: "sob nova direção". Mesmo não tendo nenhuma queixa da direção anterior, você sente bater aquela sensação de "agora sim, agora as coisas vão melhorar".
As mudanças, muitas vezes, são necessárias. Há uma historinha oriental que diz que um homem procurou um sábio, queixando-se de desconforto, por viver numa casa pequena com muita gente. O sábio lhe disse que colocasse uma vaca (algumas versões desta história falam em bode) dentro da sala. Pouco depois, o homem voltou ao sábio, dizendo que a situação piorou muito, por razões óbvias. O sábio, então, lhe orientou a retirar a vaca. Também por razões óbvias, a situação tornou-se muito melhor, fazendo-o esquecer o desconforto da casa antes da experiência com a vaca. Neste caso, uma mudança que ao final não mudou absolutamente nada foi o que faltava para resolver o problema do pobre homem. Serviu para mostrar-lhe que sua situação ainda poderia ser pior.
Na maior parte das vezes, a nova direção não redireciona nada. Mantém os empregados, fornecedores e processos e, diante da expectativa criada, acaba gerando insatisfação entre os clientes. Assim, os grandes administradores aconselham a só alardear uma mudança de rumos se realmente novos rumos forem tomados. Caso contrário, ao assumir um negócio em andamento, melhor ir aos poucos melhorando o que for possível, sem muito barulho.
Fazendo um paralelo com as nossas vidas, às vezes sentimos aquela vontade incontrolável de fechar alguns ciclos e, por mais que tentemos, não conseguimos. Lutamos para romper aquele relacionamento que não nos satisfaz mais, mudamos de emprego e faculdade, mas continuamos nos sentindo frustrados. De repente nos damos conta de que alardeamos demais essa nossa predisposição em mudar quando, internamente, continuamos os mesmos. Ainda acalentamos sonhos românticos com a mesma pessoa, ou mantemos a mesma postura pouco comprometida no trabalho ou na faculdade... Então, percebemos que o problema é interno a nós mesmos. Não pode ser modificado de fora pra dentro.
É neste momento que tiramos a vaca da sala, fazemos uma reengenharia de nossa vida e mudamos os rumos. De verdade. E só então, colocamos a faixa: sob nova direção.
Imagem daqui.