Quando foi que eu cresci?
Dia desses, durante uma daquelas crises de saudosismo que sempre nos afligem, estava eu relendo os registros de algumas conversas antigas que tive com uma amiga através de um desses programas de mensagens instantâneas via internet. Um passa-tempo bastante deprimente, devo dizer. Ficar revivendo coisas que aconteceram no passado, muitas das quais não acabaram bem, ou que já se foram e não voltarão. É paradoxal, por que ao mesmo tempo em que você sente uma parcela daquele sentimento que preenchia seu coração no momento, você acaba entristecendo-se, por saber que aquele sentimento acabou.
De qualquer forma, estava eu relendo as conversas e admirando-me do elevado nível de infantilidade que nelas havia. Conversas sem sentido, com comentários bobos e piadas sem graça, com risadas inocentes e nada mais profundo. A simplicidade do diálogo ali gravado poderia ser considerada do mesmo nível que o de uma conversa entre duas crianças.
E lendo aquelas frases desconexas e, por que não dizer, idiotas, me veio esta perplexidade: por que as coisas mudaram? Quer dizer, hoje em dia, tudo precisa ter um significado mais complexo, as atitudes precisam de uma motivação mais forte, as decisões precisam de uma base mais firme. Já naquela época, ao contrário, era tudo tão fácil e impensado. A impulsividade da juventude era tão presente nas minhas decisões, nos meus pensamentos. Ingenuidade, incapacidade de planejar uma atitude. As coisas eram simples, eu apenas agia.
Por que raios a situação mudou tanto? Como pode alguém ter amadurecido tanto e em tão pouco tempo? Eu percebi que hoje dou muito mais importância para as coisas. E isso pode ser considerado algo bom. Meus atos são bem planejados, mesmo que nem sempre acabem da maneira como imaginei. Minhas palavras são filtradas minuciosamente antes de saírem de minha boca, meus sentimentos são muito mais complexos e com consequências muito mais intensas e duradouras.
Legal, suponho que isso seja a vida adulta. Mas... quando foi que eu mudei?
Por que eu não percebi essa passagem de um estágio para o outro? E, será que é realmente correto mudar tão drasticamente?
Enquanto pensava sobre o assunto, me dei conta de que hoje em dia, tenho muito menos motivos para me alegrar do que antigamente. E sei o porquê: Hoje eu vejo as coisas de maneira mais desconfiada, mais “científica”. Aquela minha ingenuidade de outrora já não tem palavra dominante sobre as minhas ideias. Mas, será que essa “evolução” é realmente benéfica? Eu não era mais feliz antes?
“Mas antes você estava sendo iludido”, você pode argumentar. E é fato. Mas, será que estar fazendo papel de palhaço não era um preço justo a se pagar por ter muito mais sorrisos? Eu era otimista, por assim dizer. Acreditava no que havia de melhor nas pessoas. Confiava. Via o mundo mais colorido. Sofria mais, é verdade, por ser feito de trouxa mais vezes. Mas, em compensação, minhas alegrias eram mais numerosas. Tudo acontecia mais vezes.
Talvez, por medo do mundo, essa minha evolução tenha me feito viver em um casulo, uma redoma protetora, mantendo longe o sofrimento, mas também o que há de bom. Afastei de mim pessoas com más intenções, mas também, afastei todo o resto do mundo.
Se proteger é interessante, é verdade. Auto-defesa é de suma importância. Mas, quem muito se defende, acaba por não conhecer o mundo. Se você ficar trancado no seu quarto, com certeza não sofrerá nenhum acidente. Mas não verá nada de diferente.
É aquilo que eu sempre falo sobre estagnação: para que as coisas mudem, é preciso se arriscar.
Ultimamente eu tenho sido um tanto quanto repetitivo em relação a estagnação. Mas é que, nunca antes eu tive tanta vontade de crescer, de me tornar alguém em que se possa confiar, alguém estável.
E eu tenho visto o quanto nós mesmos minamos o nosso crescimento. Muitos de nós, por causa de experiências ruins que tiveram na vida, acabam por se trancar em seus mundinhos bem protegidos, fugindo de qualquer coisa que possa alterar a sua rotina. E acabam entrando em um ciclo vicioso de estagnação, falsa evolução, sentimentos incompletos e frustrações. A vida perde o sentido, as pessoas se tornam máquinas, seguindo uma “vida” padronizada e sem alterações.
O problema é que a rotina é confortável. Uma vida sem desafios é uma vida fácil de se levar.
Nossas desconfianças de adulto nos impedem de sofrer. Sendo assim, nada mais nos preocupa. Seu único sofrimento será o arrependimento inevitável, mas mesmo para isso existe uma desculpa. Como todos dizem, todo o adulto tem em sua mente as coisas que não fez quando jovem. Mas isso é normal, nós pensamos.
O que eu tenho ponderado é o seguinte: se eu voltasse a ser inocente como uma criança, eu não evoluiria mais? A minha curiosidade aguçada não me levaria adiante? A minha coragem me possibilitaria ver coisas que estão muito além dos muros da minha capsula de proteção. E eu sofreria muito, com certeza. Mas seria muito mais feliz, não?
No fim das contas, o que ficou martelando em minha mente foi o seguinte: eu quero continuar como um adulto estagnado, ou quero voltar a ser aquela criança impetuosa, que via o mundo colorido e não tinha medo de nada?
Não sei vocês, mas eu já estou procurando meus brinquedos antigos...