ASSASSINEI O INSETICIDA
ASSASSINEI O INSETICIDA
Sou muito alérgica e nesses dias de calor compro logo dezenas de inseticidas.
Tenho dó dos bichinhos, mas antes eles do que eu. Isso é legitima defesa.
Coloquei uma telas nas portas e janelas e mesmo assim os bichinhos daqui pensam.
Eles ficam lá fora até alguém entrar e entram todos juntos, depois escondem-se em algum lugar que não sei e só saem de lá quando estou dormindo.
Acordo toda hora com uma picada dos desaforadinhos. Essa noite tive um sonho com eles.
Sonhei que eles tinham convocado todos insetos daqui da redondeza para uma reunião.
A pauta era” Abaixo a Beth e sua arma mortífera o inseticida” Eu estava amarrada com fortes fios de teia de aranha e uma borboleta tapava minha boca.
Eles mandaram entrar as testemunhas de acusação. Quando eu olho, tem vários bichinhos entrando e cada um me acusando.
O senhor formigão veio com bengala e sem uma patinha e disse que pisei nele no quintal e isso aconteceu porque eu havia deixado ele tonto com minhas latinhas de inseticidas infernais. O tatu bola falou que eu nem fiz por maldade, mas estava com as mãos contaminadas pela latinha e fui brincar com ele no jardim. Ele ainda está se recuperando da contaminação.
Era um pesadelo... as baratinhas com centenas de familiares de luto por ter perdido os parentes que a assassina aqui havia ceifado a vida. Baratinhas viúvas, baratinhas pequenas órfãs. As pulguinhas que não pulavam mais. Grilos e os que tinham milhares, pernilongos.
De repente o Ilmo Juiz, Senhor Formigão, disse para entrar a testemunha principal.
Entra então uma lata de inseticida azul metálica muito bonita... Engraçado, parece que eu já á conhecia...
Ela relatou que estava me investigando há alguns meses a pedido da raça dos insetos.
Ele disse ter ficado abismado por toda vez que eu ia ao mercado primeiro passar onde vendem as armas mortíferas, os inseticidas. Ele disse saber isso porque se disfarçou de inseticida para seguir-me.
Foi lavrada ali minha sentença. Todos votaram contra eu, menos o tatu bolinha, ele disse que eu era boa e nunca sentiu maldade da minha parte.
A sentença seria levar uma picada de cada um inseto presente e assinar um documento de que eu jamais usaria inseticida na vida e ainda teria que abrir uma ong em defesa dos insetos terrestres.
Quando eles estavam se aproximando para começar o castigo picadelas unidas, despertei gritando.
Estava toda coçando. Fui até o armário da lavanderia e vi todas minhas latinhas lindinhas e defensoras das picadas infernais.
Só então notei que todas as latinhas eram da mesma cor...Laranja e junto a elas estava uma azul metálica.
Agora lembro, essa estava em oferta. Eu sempre compro a mesma marca por ser eficaz, mas essa tentei colocar na prateleira três vezes e ela caia em meu carrinho. Li no rótulo que ela era muito eficaz e não fazia mal ao ser humano. Eu a trouxe para experimentar.
Então era ela a espiã, era ela a dedo-duro?
Peguei a cagueta e joguei-a em uma fogueira. Os vizinhos fizeram uma fogueira em um terreno baldio aqui perto e eu a coloquei com gosto lá. Não havia mais ninguém na fogueira. Mas eu fiz questão de ficar até ver seu fim. Tomei uma certa distancia e aguardei.
Foi quando houve uma explosão e eu fiquei aliviada por não haver mais ninguém ali. Senão não seria só a latinha espiã que seria assassinada. Sai de lá correndo e fui tomar banho pois estava coberta de fuligem devido a explosão.
Depois fui acariciar minhas fieis e protetoras latinhas de inseticida.
De lá pra cá tenho um carinho especial por tatus-bolinhas