A CIDADE MARAVILHOSAMENTE OLÍMPICA

“Nunca na história desse país” ou de qualquer outro da América do Sul uma Olimpíada esteve presente. Nunca não, o nunca é página virada desde a última sexta-feira.

Tenho imenso orgulho de ver hasteada a bandeira brasileira em qualquer parte do mundo. Seja qual for o evento, aquela “bandeirola” verde e amarela no ponto mais alto de um pódio esportivo e o Hino Nacional como tema é sempre motivo de lágrimas nos olhos.

Mas desta vez não foi ela a causadora de tanta emoção. Um envelope limpinho, branquinho e com o nome do Rio de Janeiro dentro dele, fez o mundo inteiro reverenciar a Pátria Tupiniquim, e eu, mais uma vez estufei o peito radiante e soltei a voz: eu sou Brasileiro sim senhor, vai encarar?

Estava decretada a sede das Olimpíadas de 2016. O Rio de Janeiro abrigará o maior evento criado pela humanidade, quando o mundo inteiro resolve dar uma trégua a si mesmo e confraterniza-se através da linguagem universal do esporte, seja qual for a cor dos seus atletas, suas diferenças socioeconômicas ou o tamanho e a importância que seus países tem diante do resto do mundo. Nada existe além da competitividade esportiva.

E sediar uma festa desta grandeza, quer dizer abrir as portas da sua casa para todos os povos do planeta, onde quer que estejam. Já tínhamos abocanhado a Copa do Mundo, mas nem de longe se pode comparar com uma Olimpíada, até porque, na Copa do Mundo a disputa esportiva fica restrita a uma única modalidade e com a participação apenas de um punhado de nações e que, geralmente, são as mesmíssimas sempre, assim como os vencedores também são rigorosamente os mesmos. Numa Olimpíada “o buraco é mais embaixo”.

Mas não foi fácil derrotar os três gigantes na final apesar da opinião geral de que havia um certo desânimo das outras candidaturas, exceto a dos Espanhóis. Todas elas, Chicago, Tóquio e Madri são cidades de grandes potências mundiais e no meio delas, nós, como se fossemos “o irmão pobre da festa”.

É certo que, intimamente, pelo menos aquelas cidades adversárias, enxergavam o Rio de Janeiro como apenas mais um na disputa, sem qualquer chance de levar o direito de receber a Olimpíada, como se a nossa cidade fosse "mero complemento” da solenidade, ou ainda, como se tivéssemos sido convidados por absoluta cortesia, um “fair play” político talvez.

Eles estavam enganados, o mundo inteiro estava enganado.

Como bem disse o presidente Lula em suas palavras após a confirmação do anúncio, nossa candidatura foi a única com coração, garra e alma de quem quer sair vencedor. Estávamos ali absolutamente convictos de que sairíamos com a Olimpíada em nossa bagagem de volta. E essa é a essência de todo grande esportista: a de confiar em si próprio e nos seus ilimitáveis limites para buscar a glória de uma conquista.

Vencemos. A Olimpíada de 2016 é brasileira, é carioca, e se isso foi um carinho político das grandes nações do mundo, não importa. O esporte não tem partido político, não tem Pátria, não tem senhor e nem escravo.

Por aqui há os que dirão, estou certo disso, que o Brasil com tantos problemas sociais, alguns caóticos até, ao invés de resolver seus sérios problemas internos, preocupa-se com uma festa e reserva investimentos bilionários que dariam para solucionar boa parte dos traumas que nos rondam. Mas esses são os aproveitadores eleitoreiros, políticos de plantão que subirão nos palanques e discursarão demagogicamente como se eles não tivessem tido tempo nem oportunidade de resolver todas essas assombrações que povoam o nosso sono.

Estão aí, são os mesmos, nem se elegem mais, “passam de ano” como se fazer política fosse como estudar numa escola.

Todos estiveram e estão há intermináveis anos no poder e sempre tiveram nas mãos a chance de melhorar a vida do cidadão brasileiro e nunca se importaram com isso. Levantarão agora a bandeira da luta contra “os fracos e oprimidos”. São quinhentos anos de erros e absurdos e a grande vilã da vez é a Olimpíada. Quanta boçalidade.

Talvez não saibam, ou melhor, sabem sim, mas jamais vão admitir a importância de um evento como esse para um país que ainda engatinha na direção de se tornar uma potência mundial.

A Olimpíada, não tenho a menor dúvida, será o grande salto esportivo, cultural e social do Brasil. É perfeitamente possível crer que as nossas crianças, que hoje vivem em favelas e inevitavelmente a margem da criminalidade, vejam no esporte um caminho seguro na direção de uma vida mais digna, mais justa, longe das armas e das drogas.

Quantos milhares de meninos terão a chance única de ver ídolos esportivos como hoje são Bolt, Phelps ou o nosso Cielo, apenas para destacar três gigantes do esporte mundial.

Espelhados nesse trio de “monstros sagrados” e em tantos outros que circularão pela cidade, não é sonho imaginar as nossas crianças correndo pelas pistas de atletismo ou mergulhados em piscinas em busca de um dia serem eles mesmos um desses mitos esportivos. Não é difícil imaginar, também, que logo após o anúncio oficial do Rio de Janeiro como sede olímpica, alguns meninos e meninas foram para as ruas correr, saltar em distância e praticar um sem fim de outras brincadeiras que não somente a velha “polícia e ladrão”. O esporte e a educação sempre foram os alicerces das grandes nações do mundo e não será diferente com o Brasil.

E afora tudo isso, convém lembrar todos os benefícios materiais que virão para a cidade anfitriã.

Nossos representantes foram até a Dinamarca para firmar um compromisso perante os membros do COI e milhões de espectadores do mundo inteiro, sobre as mudanças que o Rio terá como projeto (e agora realidade) olímpico.

Não são como as promessas de campanhas políticas que nos enjoam em todos os anos de eleições, sejam pela TV ou nos diversos palanques espalhados pela cidade. Nada disso. As promessas de campanhas eleitorais ficam invariavelmente desfeitas ao longo dos anos que se seguem ao da eleição deste ou daquele político e acabam por se perder na memória deles e do povo, nesta ordem.

Ao contrário dessas promessas, as assumidas lá em Copenhague terão que ser cumpridas em sua totalidade. Nada deverá ou poderá ser esquecido.

Transportes com mais conforto, hospitais equipados, vias expressas com melhor fluxo e escoamento de veículos, sinalização e segurança, principalmente segurança que é o nosso eterno calcanhar de Aquiles, senão, arrisca um turista japonês encontrar a sua própria máquina digital que fora roubada no dia anterior sendo vendida à luz do dia, até porque eu duvido muito que no meio daquela multidão alguém consiga distinguir um japonês de outro.

Ainda teremos a Paraolimpíada, importantíssima, e que pode definitivamente dar fim ao calvário que os nossos deficientes enfrentam por toda a cidade diariamente, que não fez e não faz absolutamente nada por eles, a tal ponto de mesmo quem não tem qualquer deficiência sentir-se um “deficiente solidário” na hora de uma ajuda.

Ao fim da competição, os atletas e as delegações voltam aos seus países de origem assim como os turistas e toda a imprensa internacional, mas permanecem as melhorias feitas na cidade.

Todas essas modificações pelas quais a cidade passará, me parece, é a primeira medalha de ouro entregue pela Olimpíada de 2016 ao Rio de Janeiro, e esse é o esporte, capaz até mesmo de dar dignidade e seriedade aos governantes de um país castigado pela corrupção e impunidade política.

Essa medalha é nossa!

Ganhamos desta vez e eles vão ter que nos melhorar a força, ou como diz o “indestrutível” Zagallo: eles vão ter que nos engolir!

Aliás, me ocorreu de pensar algo aqui com meus botões. Sei não...essas melhorias todas...a cidade “ajeitadinha”, toda bonitinha com os gringos nas praias do Rio e aqueles “pedacinhos de pano minúsculos cercados de carne por todos os lados” passando bem pertinho dos seus narizes, tenho lá as minhas dúvidas se a cidade não vai ganhar do COI a “perpetuação olímpica” e sediar todas as edições desde 2016 até o final dos tempos, afinal, eu apostaria todas as minhas fichas que na abertura das Olimpíadas se por acaso os organizadores resolverem colocar aquelas mulatas do carnaval pra sambar e com “toda aquela imensidão de roupa” que elas usam nos desfiles da Sapucaí, nas arquibancadas do Maracanã já vai ter muito marmanjo estrangeiro praticando o “sobressalto com a vara” e sem sair do chão, o que é infinitamente mais difícil.

Nada é impossível e tudo é possível.

No mais é dar parabéns ao Rio de Janeiro e torcer para que tenhamos um comportamento verdadeiramente olímpico, o que em se tratando do povo carioca não é tarefa das mais difíceis, ao contrário.

Somos desde 2011 quando recebemos o PAN e até 2016 a capital mundial do esporte.

O Cristo Redentor e o Rio aguardam o mundo de braços abertos.

Haja cerveja!