Defronte ao espelho...
Águida Hettwer
 
 
 O tempo não faz pausa e nem deleita de férias no final do ano, arduamente trabalha, na consistência dos fatos. Mesmo que a alma seja passada a limpo, em novo gabarito, ainda restarão às marcas das mentiras que contamos a nós mesmos para amenizar as dores. Defronte os espelhos, nós percebemos a decadência das ações, quando fechamos os ouvidos para não ouvir o óbvio.
 
   Singrando as letras na encosta de um rio, em uma discussão que não leva para nenhum lugar. Admitindo a derrota dos argumentos, num fim de tarde que desmaia no poente. Na terra calada onde enterra seus mortos, murmúrios de vidas, dadas por vencidas. Nos lábios, tom de rosa envelhecido, um riso quase esquecido.
 
   A vida, não se fecha em caixas de sapatos guardados em armários, mesmo que a dor sentida seja discretamente mascarada. E a dureza do olhar, finge indiferença, atravessa a rua para não precisar cumprimentar. Sentimos-nos frágeis objetos em mãos algozes, a alma em desassossego apanha.
 
  Sem perder a visão da vida, rubrica com voracidade a cada página escrita, Todavia os borrões das escolhas deixaram marcas profundas. Descascando os anseios com naturalidade, como quem se despe em gomos sem perder a sensibilidade e muito menos o dito pelo não dito.
 
    O espelho não mente, e nem inventa um personagem, revela a irreverência de um olhar, a sinceridade de um riso, e não esconde os desejos mais reprimidos. Nos espelhos, sobram motivos para as lágrimas, e a culpa, merece desculpa, pela ousadia de tentar.
 
   Tentar sem menos repressores, e mais espontâneos nos atos, requer carga de sabedoria e maturidade, onde o tempo é um grande aliado.
 
 
  
05.10.2009