É melhor despregar

Não tem coisa mais feia do que um prego posto assim de qualquer jeito na parede. Há quem pendure calendários de propaganda em preguinhos num lugar bem à vista na casa. Feio também é pano de prato pendurado direto num prego. De tanto ser puxado, vai abrindo um buraco nele. E quem usa nem percebe a feiúra. Credo!

Estou aqui pensando em pregos, que simbolizam sacrifício e principalmente dor, como aqueles que perfuraram e fizeram sangrar mãos e pés de Jesus na cruz.

Transportados para outras esferas, eles podem também nos pregar peças, pregando a gente em tanta coisa... Boas ou más. Das boas gostamos, das outras fazemos esforços para nos livrar. Acho que muitas vezes penduramos ideias, igualzinho àqueles panos da cozinha dos pobres. No prego. Ideias fixas, melhor seria que fossem renovadas.

E o pior, é quando a gente prega a gente mesmo naquele maldito prego. Isso em geral acontece no plano amoroso. Quando gostamos de alguém que não gosta da gente. E ficamos ali presos, querendo despregar e não querendo. Esperando um milagre, embora sabendo que não vai acontecer. Nos momentos de lucidez, nos puxamos do prego. Depois vem a recaída, lá vamos nós pro prego... Tantas vezes vamos e voltamos que podemos acabar esgarçados e tão esburacados que não prestamos mais para nada.

Melhor arrancar de vez esse prego da parede. Ou então, pendurar nele uma tela que ao olhar só nos dê satisfação, em vez de ficarmos pregados no lugar errado.

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(*) cozinha dos pobres - é apenas expressão, não tem aí nenhum preconceito!