NÃO GOSTO DE VER VOCÊ INFELIZ...

 
            Ouvi isso de uma amiga esta semana. Depois que ela saiu fiquei pensando no sentido das palavras. Aliás, o sentido, o significado das palavras é um assunto que me fascina. Mas, voltando ao que ouvi. Por que sempre associamos tristeza a infelicidade? Para mim há uma diferença enorme entre estes termos. E não é apenas uma questão ortográfica, mas do sentir. 
            
            Não temos controle sobre a tristeza. Ela é fruto de fatores externos. Uns sofrem mais outros menos, pelos mesmos motivos; sofremos diferente por motivos iguais e igual por motivos diferentes. Tristeza vem de fora e, embora se aloje bem fundo em nossa alma, ela não nos pertence, assim como veio, uma hora ela vai embora, sem deixar saudade.
 
            A tristeza nasce das perdas, frustrações, decepções. Faz-nos sofrer, chorar, querer sumir, até. Dói. Machuca. Parece ferida aberta na carne, mas tem prazo de validade. É perecível. Infelicidade é falta de sonhos, incapacidade de lidar com os problemas, apatia diante da vida, indisposição de viver. 
 
            Se a tristeza vem de fora a felicidade, ao contrário, está dentro de nós. Pode até sofrer influências externas, mas é nossa. Ela nos pertence. Faz parte de nossas escolhas. Sobre ela temos controle. Se alguma coisa lá fora nos faz sofrer, nos magoa, nos deixa triste é ela, a felicidade, que nos segura de pé. 

            Se as lágrimas banham nosso rosto, correm livres pelas varandas de nosso olhar, onde a dor resolveu fazer pousada, sabemos que elas apenas adubam o sorriso que se recolheu, temporariamente, mas que voltará a brilhar nos lábios que, por enquanto, ainda não voltaram a sorrir.

 
            É possível sofrer e ser feliz – acho que escutei isso essa semana -, mas não lembro quem disse. O segredo é não confundir as coisas. Não achar que o mundo acabou porque estamos tristes. A vida continua acontecendo, o sol continua nascendo e as cores continuam lá, nós é que não estamos prontos para este momento.
 
            Os últimos dias não tem sido fáceis para mim. O luto que instaurou-se em meu coração foi muito intenso, mais do que eu me imaginava capaz. Eu sempre soube que sofreria quando papai partisse, mas não sabia que seria assim, sem forças para escrever. Sem vontade de sorrir. Mesmo assim essa tristeza não é sinônimo de infelicidade, apenas de dor, sofrimento, mas tudo isso vai passar. 
 
             E o que vai ficar é a felicidade de ser filha de um homem simples, que me ensinou o valor da palavra empenhada, que sentia orgulho de “minha nega sabida”; que me olhava cheio de carinho e deixava uma lágrima rolar sempre que me via triste e sorria seu sorriso tímido quando sentávamos para conversar sobre tudo e nada. Se estou triste porque ele não está mais comigo, estou feliz porque tenho ao meu lado pessoas maravilhosas que me ajudam a superar este momento.
 
            Portanto, amiga, eu não estou infeliz. Eu estou triste, apenas. 
 






Este texto faz parte do Exercício Criativo “O segredo”
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Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 05/10/2009
Reeditado em 06/10/2009
Código do texto: T1848956
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