O ANEL
Estava à janela, contemplando o céu azulado e o espetáculo belo à vista, proporcionado pelas árvores verdes e bem delineadas do seu jardim. Os raios matinais coloriam ainda mais o quadro formoso da Primavera. Observava todo o maravilhoso espetáculo, mas estava triste. Por quê? Não saberia dizer. Olhava melancólica para um canto da mesa próxima , para um caixinha aberta, onde como estrelas de primeira grandeza, cintilavam os brilhantes de um anel:
o seu anel de noivado.
Ao pousar seus lindos olhos azuis no anel, esses se enceram de lágrimas.
Lágrimas de alegria ou tristeza? Não sabia. Talvez ambas as coisas : era um momento decisivo de sua vida. Era o mais belo, mais romântico e o mais triste.
Quantos sonhos: uma vida futura de casada. Ver a ilusão de tantos anos a coroada com um diadema de flores brancas e perfumadas de laranjeiras, o som do órgão, a festa, a viagem... viver para sempre o amado. Mas, também, adeus às despreocupações, ás brincadeiras folgados de estudante jovem e rica, adeus às mamãe, papai, namoradinhos.
Uma página de sua vida fora virada! Talvez a mais formosa , talvez não.
Quem sabe?
Recordava agora sua infância: aquela boneca, ah sim, foi papai quem a deu no seu oitavo aniversário. Quanta alegria! O papai risonho. Que saudades... Mais adiante, o violão, prêmio por ter sido boa aluna na escola, ao terminar a quarta série. A escola... a adolescência, tudo lhe voltava através de cores cor-de-rosa.
Olhou novamente o anel. Sim, esse anel virou uma página de sua vida, mas promete uma outra, ainda mais bela que a primeira, uma página que durará a vida inteira.
Aproximou-se da caixinha, pôs o anel no dedo cantando e saiu a correr à sala, ao encontro do amado.
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Obs.:
Crônica criada no 1º ano do Colegial , em 1965, como exercício de Redação. O tema era “O anel’’.
Selecionado no " II Concurso de Crônicas do Clube Literário 1994"-Brasília- com o prêmio "Destaque Especial".
Publicado no IV Anuário do Clube Literário Brasília – n. IV, ano, VI, 1994 , p. 37/38. encarte
Da Revista Brasília, Grupo Brasília de Comunicação, Brasília, agr/set/1994,