Dando importância ao que importância possui: sonhar em Educação. Uma homenagem aos que ensinam.
 
       Transformar a Educação é um sonho partilhado entre muitos atores sociais que atuam e trabalham, com afinco, em prol da melhoria das condições materiais e psicossocioeducativas dos espaços e tempos institucionais onde se processa esta dialética e essencial manifestação do espírito humano: o ensinar que é, ao mesmo tempo, aprender. Nos mais diferentes estados e cidades desde país, por onde vivencio a práxis de ser, na atualidade, um educador, um ensinante itinerante ministrando cursos e palestras, tenho observado o quanto de significativo é a ação educativa que se pauta na busca por alternativas para a melhoria das dificuldades presentes no ensinar e no aprender.
      Falo, ouço, compartilho, indago, questiono, movimento ideias, sugiro ideais, movimento sentimentos, faço-me perguntador, tento responder alguns anseios. Entretanto, tenho sempre uma nova percepção a cada encontro, em cada evento e nada fica como antes, pois sou provocado a pensar cada vez mais sobre o meu próprio fazer e ampliar estudos, pesquisas e temas sobre a complexidade educativa de nosso tempo.
      Quem nos ouve, nos observa em algum evento e, principalmente conosco interage, apreende de nós a nossa humana dimensão? Sempre brinco e falo que estar atuando nesta tarefa, nesta missão, envolve alguns mitos. Ser palestrante, professor educador, ensinante itinerante possui um certo caráter fantasioso para alguns: ficamos como mitos ou idolos talvez. somos admirados mas nem sempre sabemos ao certo o motivo. O que sei e sinto, neste instante, é que somos feitos da mesma matéria desejante, temos sonhos de Justiça, Paz e Igualdade na Diferença, temos a Utopia em nossa caminhada, desejamos e lutamos por um Mundo mais justo, solidário, humano, fraterno e, sobretudo, digno para todos e todas. Vamos alinhavando palavras com fios de ternura no tecido da Vida e empolgados ficamos com as boas iniciativas que se proliferam, apesar dos pessimistas de plantão. Tecemos tecidos de fina beleza com a solidariedade, com o fazer que está além dos limites, com a  luta declarada de muitos que acreditam no novo, no fazer pedagógico que modifica realidades, ilumina mentes, motiva ações, impregna corações com a coragem reluzente para seguir adiante, indo além da perplexidade imensa e sentida mediante a miséria oriunda dos mundos podres da corrupção.
    Ficamos empolgados e entusiasmados quando vemos projetos pedagógicos em salas de aula no sertão da Bahia. Ficamos empolgados e entusiasmados quando, indo para um mesmo evento numa condução que nos iguala no anonimato de nossas tantas ações,  conversamos sobre Ética e Condutas Docentes com educadoras  infantis que militam em creches do Paraná. Aprendemos, felizes, ao sorrir com jovens que acabam de entrar para a Faculdade de Pedagogia na cidade de São Paulo. Debatendo questões educativas e psicopedagógicas em cursos de pós-graduação em diferentes regiões brasileiras, observamos o quanto ainda temos que avançar, ressignificar, fazer valer nosso direito essencial de Educação e Cultura em nosso mundo, em nosso país, nosso estado, nossa cidade, nosso bairro.
    Ficamos, muitas e muitas vezes, estarrecidos com a vaidade, com os egos inflados, com as situações de acirrada competição e mesquinharia que se presentificam em nossas cotidianidades exacerbadas de vícios humanos e que, infelizmente, impedem o acesso à alegria do compartilhar os recursos que são advindos das histórias de luta e vida de tantos de nós.
    Sentimos as mesmas dores, também sofremos com nossas escolhas, falta-nos um tanto de coisas, temos sempre inúmeros projetos inconclusos - coisas que deixamos de fazer ou por não poder ou ainda por não ter a disponibilidade de tempos e recursos necessários para tal. Estamos na mesma Teia da Vida, repleta de incongruências, paradoxos, sentimentos que por vezes não se concetam ou que se fazem , em alguns momentos, maiores do que na verdade são.  
    Vivemos a doçura da acolhida, partilhamos desejos de mais Vida, inauguramos sonhos com nossas participações na Vida de outros tantos de nós e pouco sabemos sobre o como irão reverberar nossas ações, nossos atos e gestos, nossas palavras, nossa Presença.
    Sentimo-nos absolutamente incompletos, inconclusos, em construção.
    Colocamos nossas vidas em riscos em estradas no Espírito Santo, lembramo-nos de nossos familiares cada vez que um avião levanta voo num aeroprto da Região Norte, ficamos pensativos e perdidos numa rodoviária no interior das Minas Gerais e lamentamos quando um amigo, num ligação telefônica, nos pede ajuda e não podemos com ele estar para, num momento dificil, um abraço amenizar a dor e o sofrimento.
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra, que por muitas vezes nos falta no silêncio necessário para refazer as energias e continuar a trajetória, mas que em outros momentos, nos são abundantes como as águas dos rios límpidos que ainda existem e correm para o mar.
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra ao ler uma mensagem bela, enviada por uma amiga que compartilha conosco seus estudos numa proposição de Educação para a Paz. 
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra quando insistimos no ousar em nossas autorias, fazendo com que nossas movimentações ganhem visibilidade e, com isso, outros também feito nós se encham de coragem para superar o medo do não falar, do não dizer, do não escrever, do não inscrever-se no mundo com suas ideias, pensamentos, vivências, experiências e ações.
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra quando fomentamos o desejo de construção de diferentes possibilidades de exercitar a escrita, a partir da tessitura de ideias em "Diários de Bordo como Registro de Aprendências".
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra quando cantamos e refletimos sobre o Poder de nossas vozes unidas.
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra quando provocamos os nossos corpos ao dançar, ao acolher o outro, ao abraçar a diversidade, ao movimentar-se para seguir acreditando no saber-aprender. 
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra quando lembramos de nossos tempos idos, dos nossos avós, dos tios e primos, dos amigos vizinhos na casa de nossa infância, de nossa primeira escola e do arbusto que por lá plantamos numa Comemoração pelo Dia da Árvore.
    Vivenciamos uma Antropologia da Palavra no recordar nossos tantos professores, educadores e ensinantes que se presentificaram em nossas trajetórias de Vida, ao longo de nossas histórias em permanentes reconstruções. 
    Em tempos de conexão ampliada, lembrar é trazer do passado o que nos serve para o Presente e desejar- com toda a nossa força e com todo o nosso "agirpensarfazer"- que possamos também, um dia, ser lembrados como alguém que viveu, desejou, sonhou e acreditou. Acreditou e não de fez de rogado quando convidado foi ao enfrentamento dos desafios presentes em sua Missão.
 
Saúde e paz,
Prof. João Beauclair  
www.profjoaobeauclair.net