Minha Eternidade
Alguns passam a vida em caixotes de concreto, com janelas que dão vista para lugar nenhum, para o prédio do lado, para o muro mais próximo. Uma eternidade em uma caixa é coisa muito pequena pra almas tão alongadas.
Alguns vivem em vitrines, se prendem como manequins de uma moda moral lançada por eles mesmos, ou aceita por outros e seguidas a risca. Mas todo manequim quebra exatamente por manter-se em uma única posição por tempo indeterminado, se congela numa expressão e isso o desgasta, a imobilização da posição o enrijece fatalmente a destruição.
A eternidade há de ser livre. Sem portas e sem janelas, nem modelos religiosos. A eternidade há de ser uma criança nua correndo na praia pela manha atrás de gaivotas desavisadas, ao tom arco-íris com cheiro de maresia. Há de ser topo de montanha em noite estrelada, e um desapego nunca experimentado de caminho a verdadeira liberdade. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” segundo as escrituras. O que haveria de ser a eternidade senão o indizível do amor. Porque Deus é amor e se emudece em guardar surpresa, só afirma na sua palavra que a eternidade há de ser um presente tão maravilhoso que ele cuidou pra que seja totalmente surpreendente, em olhos, cheiros, gostos e ouvidos.
Seria a eternidade um instante de bolha de sabão do universo? Às vezes acredito que sim, caso seja assim quero aproveitar todas as suas cores antes de explodir. Até lá vou começar pelo tempo indeterminado nada eterno que tenho, investir tempo em procurar eternidade por aqui, em amigos queridos, em dias que gosto, em coisas que leio, em sons que escuto, em tardes estranhas e sentimentos indizíveis.