Na porta da Europa

Chegamos em Lisboa pela manhã bem cedinho e embora cansados, quase ninguém quis dormir. Fomos para a rua, assim, ao léu. Queríamos nos certificar de que era mesmo verdade. Eu olhava os prédios, as ruas, as praças e dava pulinhos de alegria. Tudo tão diferente. Finalmente, eu estava lá!

Apesar do tempo passado, ainda recordo a emoção. Era como se eu estivesse dentro de um sonho gostoso, e acordada! O que eu tinha visto em fotografias e filmes estava ali, aos meus pés. O que era velho e antigo virou novo aos meus olhos extasiados. Até do friozinho eu gostei.

A nossa hospedagem incluía todas as refeições no hotel, então, na hora do almoço, notei que um homem solitário não tirava os olhos de nós. Não sei se porque fazíamos barulho ou porque ele pretendia ouvir as conversas. De repente ele se levantou, rodeou nossa mesa e parou bem atrás de mim. Todos se calaram e puderam ouvir a pergunta: Você não é filha do doutor José Geraldo? Ninguém entendeu nada, só eu. Aliás, eu só entendia que era filha do Zé Geraldo, mas como é que aquele português safado sabia? Seria vidente, por acaso?

Não. Não era vidente. Apenas um bom observador de fisionomias. Achou que eu parecia com meu pai e arriscou. Por acaso acertou. E, por acaso também, era daqui de Taubaté. O que me levou imediatamente a pensar ainda bem que sou comportada. Já pensou?...