Se sou daqui, não sou daqui.

Lá estava eu estampada no cenário deles. Eu, meu cigarro e um pouco da bebida que não era minha, mas depois virou.

Áquela hora não me pertencia mais o olhar, porque esse já não pertencia a ninguém. Ele estava longe e baixo, sob minhas pálpebras caídas e corria varrendo o chão - nada mais que o chão forrado por um tapete mostarda liso na sala de estar.

Eu vivo num constante conflito comigo. Meu silêncio briga com a minha vontade de gritar, meu corpo não obedece minha cabeça e, meu coração expulsa gente de dentro como se adotasse um governo exclusivamente aristocrático.

As minhas idéias e eu somos uma só coisa cheirando à revolução, porém deslocando-se de todo o resto. Uma coisa atrativa, mas morna: ph neutro; pizza doce; tarde nublada.

Cheguei até a pensar ter vindo acidentalmente pr'essa vida. Se sou daqui, não sou daqui - persisto pra mim.

Devo ser estrela de outro céu; lanterna de outra estalagem; personagem de outro drama; musa de outro Caetano.

Fernanda Luchiari
Enviado por Fernanda Luchiari em 04/10/2009
Reeditado em 14/11/2010
Código do texto: T1847643
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