Relatos de viagem

Lendo as crônicas da Maria Olímpia, fiquei aqui pensando que não escrevi nada na ocasião da minha sonhada viagem para a Europa. A não ser as cartas que de lá mandei para Deus e o mundo. E elas se perderam, é claro. Os tempos eram outros, eu era bem jovem. Tudo tinha que ser escrito a mão, nunca soube datilografar. Mas nem por isso deixei de guardar na memória as emoções sentidas. Só anos depois comecei a fazer crônicas, sempre sobre situações inusitadas ocorridas.

E agora, acompanhando a Merô, quanta coisa me voltou à lembrança. Tudo começou com o anúncio pregado no mural da faculdade: “Conheça a Europa. Hospede-se em casa de ingleses.” Seria para os meses de janeiro e fevereiro. Conhecer o Velho Mundo era meu sonho dourado, hospedar-me com ingleses não chegava a tanto. Mas tornaria mais barata a viagem, cujas prestações equivaliam exatamente ao meu salário numa escola infantil. Para a entrada eu tinha umas economias. Animadíssima fui contar a novidade a meus pais. Só faltava eles concordarem.

Mamãe, professora de inglês, achou linda a idéia. Papai relutou um pouco, enfim cedeu. Ao se despedir, minha mãe me aconselhou a ficar um pouco mais por lá, caso o dinheiro desse. De todos seus conselhos, este foi o que guardei com mais carinho e o segui à risca. O dinheiro, embora não fosse muito, acabou dando. Fiquei seis meses.

Embarcamos no dia 26 de dezembro de 1966. Viajei com um grupo de universitários, o primeiro do Brasil a fazer intercâmbio com famílias europeias. Nossa primeira escala foi em Lisboa e ali mesmo começaram minhas peripécias, tanto com o sobrinho do professor Amora como com Manuel Carlos, surgido inesperadamente no restaurante do hotel.